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sexta-feira, dezembro 5, 2025

Chloe Battelle: da cena underground do Brooklyn ao lançamento de um EP visceral e cinematográfico

Emergindo do underground do Brooklyn com um som cru e cinematográfico, Chloe Battelle vem se firmando como uma artista com propósito. Tendo iniciado sua jornada na produção musical apenas em 2024, ela já construiu uma identidade única – equilibrando textura hipnótica e profundidade emocional, costurando nostalgia com experimentações voltadas para o futuro. Seu EP de estreia, Porcelain, lançado pela EELF Records, reflete um ano de transformação pessoal, reunindo diversos estilos em uma obra que aponta para a direção criativa que ela pretende seguir.

Sentamos com Chloe para mergulhar no processo de criação do projeto, as inspirações por trás dele e os caminhos que ela pretende explorar a seguir.


Oi Chloe, tudo bem?

Oi! Estou muito bem, e você?


O que o EP Porcelain representa para você em um nível pessoal — quais emoções ou expressões estão no centro do seu som?

Esse EP é uma análise interna dos acontecimentos que marcaram meus primeiros anos dos 20. Porcelain é o “acidente feliz” que surgiu de um ano intenso de autorreflexão. O que percebo agora, só depois do lançamento, é que ele incorpora a bagunça, as falhas, os aprendizados, as perdas e a raiva que marcaram meus 20 e poucos anos. E quando escuto cada faixa, consigo reviver as emoções viscerais daquele período em que compus. Cada música é como uma caminhada pela memória, induzida pelo som.

De um lado, o EP é ancorado nas músicas da minha infância – Moby, Radiohead, Portishead, Massive Attack – e, de outro, é influenciado por melodias experimentais, soltas e, às vezes, caóticas, vindas de dentro de mim – resultado direto de encontrar o meu próprio som. Encontrar seu som é muito parecido com encontrar sua voz. E esse EP é um ótimo exemplo das diversas formas como isso pode se manifestar. Embora não seja perfeito, é um reflexo de como minha voz mudou ao longo do ano, e sou grata por como ele ficou.


Quando você começou a desenvolver o projeto, já tinha um conceito definido em mente ou as faixas evoluíram organicamente durante o processo?

Quando comecei o EP, eu estava apenas surpresa por conseguir criar uma música coesa que soasse bem. Não havia conceito definido porque eu não fazia ideia do que estava fazendo. Tinha acabado de começar a produzir e estava aprendendo teoria musical com vídeos no YouTube.

As faixas nasceram de emoções profundas. Quando eu pegava um synth e brincava, às vezes ouvia algo que ativava um gatilho, e então eu trabalhava até aquilo se tornar algo poderoso. Cada camada surgia um pouco assim e, com o tempo, o esqueleto da música ganhava forma. Nos primeiros dias, uma música podia levar meses para ser finalizada. Acho que o fio condutor do EP é a criatividade vulnerável e quase inocente que ele carrega – algo que reflete bem o início da minha jornada na produção.


O EP transita por Breaks, Hard Groove, Leftfield e Techno atmosférico — como você escolheu esses caminhos estilísticos e como manteve coesão entre eles?

Essa é uma resposta complexa, então vou tentar simplificar.

Eu não sabia qual gênero queria fazer. Sabia quem eram minhas inspirações e sentia muita pressão para alcançar minhas próprias expectativas do que a música pode ser — tanto emocional quanto experiencialmente.

O breakbeat vem diretamente da influência do trip-hop da minha infância — principalmente Moby e o álbum Play.

O techno/hard groove é uma homenagem à minha fase jovem adulta em Nova York, onde descobri que a rave era o único lugar onde eu me sentia livre, como se ninguém estivesse me observando. Quis traduzir essa cultura, a sujeira e aspereza do underground, e a beleza do Brooklyn às 7h da manhã (quem sabe, sabe…).

O leftfield apenas fez sentido — por mais estranho que pareça. Porque quanto mais esquisito era o som, mais eu compreendia o que sentia. Cada música realmente me ajudou a atravessar o caos que é crescer e fazer essa transição dos 20 para os 25.


Como você navega entre faixas com energia de pista e aquelas mais introspectivas e cinematográficas?

Qualquer equilíbrio foi acidental. Acho que, na música, “equilíbrio” é completamente subjetivo. Ainda estou aprendendo a equilibrar meu som. Mesmo quando uma faixa é caótica, ainda carrega uma essência cinematográfica — e agora, com mais experiência em produção, acredito que esse pode ser o elemento que defina minha identidade sonora no futuro.


Você lançou ‘Sutro’ e ‘Anesthesia’ como singles antes do EP. O que guiou essa escolha?

‘Sutro’ e ‘Anesthesia’ são quase opostas, então lançá-las primeiro foi uma forma de mostrar a diversidade do EP — elas são os extremos. ‘Sutro’ é um grito de guerra, enquanto ‘Anesthesia’ é o coração do EP, a mais vulnerável e com maior carga emocional. ‘Sutro’ foi a última faixa que fiz e representa a “moral da história” do EP, então lançá-la primeiro foi propositalmente irônico. Já ‘Anesthesia’ é a mais experimental e a minha favorita – e, para ser sincera, eu simplesmente não consegui esperar.


O EP tem uma forte pegada industrial — que elementos foram mais importantes para moldar esse som e o que você priorizou no processo de produção?

  1. Design sonoro e reamostragem. Manipular pequenos sons é algo empolgante. Estou aprendendo modulação em hardware e isso virou uma obsessão.
  2. Plugins são seus melhores amigos.
  3. O microfone do seu celular também.
  4. Não tenha medo de cortar, reprocessar, repitchar e distorcer samples aleatórios.

Até que ponto a cena underground do Brooklyn influenciou a direção criativa dessas faixas?

Enormemente. Há muita história aqui.

Como artista, sinto que há uma responsabilidade em entender a cena na qual você quer se inserir. E essa, em particular, é bem complexa. Cultura, raça, política — comece com folk, reggae, blues e jazz; passe pelo disco; vá para Chicago ou Detroit; entenda o house e o minimal; estude as guerras e seus impactos no techno, trance, prog, bleep etc. Acredito que é essencial honrar a história do som que você quer criar. Encontrar seu som não é possível se você não dedicar tempo a esse estudo.


O design sonoro é um pilar de Porcelain. Que ferramentas, técnicas ou fluxos de trabalho você testou que mais impactaram o resultado final?

  1. Batidas percussivas metálicas
  2. Sample pack com texturas de madeira
  3. Packs de artistas independentes do Bandcamp
  4. Acid V
  5. XLN
  6. Transient Shapers
  7. Sequenciadores <3
  8. Dedicação

Conforme você refina seu som, quais elementos estão se tornando marcas registradas de Chloe Battelle – aquilo que os ouvintes vão reconhecer de imediato?

Meu som está ficando mais sujo e hipnótico. O minimal é o caminho que estou seguindo — inspirado no techno de Detroit dos anos 90. Quero fazer uma faixa com apenas 4 canais e que seja tão pura e hipnótica que exploda a mente de quem ouve. Ácido e minimal são estilos que sigo revisitando e nos quais quero me aprofundar cada vez mais. Quero que minhas músicas toquem em um clube e façam você se sentir em três lugares ao mesmo tempo. Também quero mergulhar no Prog House e Acid House – pense em nomes como Spray, Bella, Kim Ann Foxman. Tem muita diversão por ali.


Por fim, se Porcelain representa um capítulo de crescimento pessoal, qual história você espera contar nos próximos projetos?

Nada de olhar para trás… por enquanto.


Com Porcelain, Chloe Battelle entrega mais que um EP de estreia — ela estabelece uma declaração de intenção. Canalizando o caos e a clareza de sua jornada, constrói um som que é só dela. Conforme continua evoluindo sua arte e explorando novos territórios criativos, uma coisa é certa: Chloe vai continuar se desafiando, buscando equilibrar introspecção criativa e energia de pista de forma única e refrescante.

👉 Fique de olho nos próximos passos de Chloe Battelle e acompanhe tudo pelas redes sociais.

Yohan Augusto
Yohan Augustohttp://www.wonderlandinrave.com
☁️ Behind everyone's favorite song, there is an untold story.

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