Camila Jun fala sobre a relação com o house music e convite para o Tokka Pride

Conectada com a música desde criança, Camila Jun é um nome forte da cena house nacional. Além de ter sets com muita diversidade, a DJ é bailarina, publicitária, empresária e convive com a música quase que 24 horas por dia.

Seu som, por sinal, não possui barreiras, o objetivo de Camila é fazer o público dançar do início ao final. Recentemente, a artista participou de eventos importantes como o BOMA, e Universo Paralello, mas desta vez ela vai participar da icônica Tokka Pride onde encerra a festa que ganhou novos patamares para os próximos anos.

Camila Jun vai encerrar o Tokka Pride 2023!

Camila Jun vai encerrar o Tokka Pride 2023! – Foto: Divulgação

Em entrevista com o nosso portal, a DJ e produtora não se escondeu e falou de temas importantes como a evolução para uma cena mais diversificada de estilos, a importância do house music para a vida dela, além de posicionamentos interessantes para quem quer iniciar ou já está se inserindo na jornada musical.

WiR: Olá, Camila Jun. É uma satisfação enorme te receber em nosso portal! Sua carreira está crescendo em uma vertente que é extremamente acessível e aberta para todas as comunidades da música eletrônica. O que o House Music representa para você?

Eu sempre falo que a house music é muito mais do que um ritmo, né? Ela é muito mais do que um ritmo dentro da música eletrônica. Ela é definitivamente uma forma de resistência e posicionamento até hoje. Ainda que ela tenha se pulverizado nas suas mais diversas formas e muitas vezes não traz em todos os ambientes o porquê e como ela surgiu, ela é definitivamente muito além do que um ritmo.

E para mim também é isso, também representa posicionamento, também representa resistência, também representa a responsabilidade de estar em consonância e de apoiar algumas causas que são muito importantes. Então, quando a gente pensa no porquê e como a música house surgiu, ela nasce prioritariamente, em sua maioria, dentro da comunidade preta, LGBTQIAP+.

Dentro dos clubes e das casas onde esse público tinha mais liberdade de se expressar como artista, como cidadãos, como pessoas. Então, eu sempre trago isso comigo também. Isso também representa a house music para mim. Mas é claro também que a house music representa uma outra… Um lado também muito leve e alegre para mim.

A música house para mim representa sentimento, amor, bem-estar, dançar. Então tudo isso é um combo, assim, muito potente, sobre o que significa house music para mim. E, resumindo tudo, ela significa a minha vida mesmo, mais do que a minha profissão, porque eu sempre estive conectada com ela desde muito nova, mesmo antes de eu ser uma DJ profissional, uma artista profissional. Então ela representa grande parte da minha vida e de quem eu sou.

WiR: Seguindo na mesma linha, vendo que a cena nacional é um espaço que está se abrindo mais nos últimos tempos. Você conseguiu espaço em eventos significativamente consideráveis para a expansão da sua marca. Como lida com o seu crescimento como mulher, DJ, produtora e empresária?

Eu acho que todas essas frentes, né? Eu como mulher, DJ, produtora, empresária, apesar delas terem, às vezes, direcionamentos mais específicos e mais singulares na minha vida, elas estão sempre muito entrelaçadas. Eu não separo exatamente cada uma numa caixinha muito diferente.

É claro que a gente tem cuidados e atenções e a gente faz ações e age especificamente para determinada frente, mas elas se interligam de alguma forma. Então, eu acho que para eu ser uma DJ cada vez melhor, uma empresária cada vez melhor, uma produtora cada vez melhor, eu também preciso me lapidar como mulher, eu também preciso me lapidar como cidadã.

Eu acho que o bom profissional, seja ele DJ, produtor, empresário e mais especificamente dentro desse âmbito feminino, você precisa se lapidar como pessoa também. Você precisa ter o compromisso de ter um crescimento pessoal, né? De caráter, de posicionamento, de pensamentos, de atuações que sejam coerentes com aquele trabalho que você está fazendo.

Mais uma vez, eu toco a house music, eu represento uma artista que toca esse ritmo, né? E que é muito mais do que um ritmo. É um posicionamento, é uma bandeira. Então, eu preciso ser coerente com isso nas mais diversas frentes.

Então, quando eu toco a house music eu estou sendo coerente com a minha característica, com a minha particularidade como DJ, mas eu também preciso transpor isso para o meu lado pessoal, né? Como essa bandeira, essa representatividade, esse posicionamento, essa resistência também precisa ser refletida na minha vida pessoal. Então, eu acho que quando a gente fala de crescimento, eu como DJ, como produtora, como empresária, como mulher, elas precisam estar interligadas, né? Um bom profissional precisa ser uma boa pessoa.

WiR: Vi nas suas redes sociais que você está cada vez mais inserida no mundo da produção musical, como está sendo o processo de aprendizado e o que você quer explorar nas próximas faixas que vierem?

O processo da produção musical é um caminho longo, árduo e exige muita dedicação. E esse é um desafio para quem também é DJ, toca muito fora e viaja e tem tantas agendas e tantas gigs.

Você conciliar essa agenda como DJ, também da agenda como produtora, é um desafio, porque a produção musical exige muitas horas de estudo dentro do estúdio, muitas horas de dedicação.

Ele é um movimento de erros, tentativas e acertos. Mas em 2023 esse é um dos focos da minha carreira. Eu tenho passado muitas horas no estúdio, semanalmente, sozinha e com parceiros e parceiras também, aprendendo, trocando, experimentando.

Então esse é um dos focos, com certeza, para 2023. Algumas faixas que eu vou lançar já esse ano, outras que estão sendo construídas. E, claro, definitivamente, o elemento central que norteia tudo isso é a house music, é o amor pela house music, é o que ela representa, é a sua sonoridade que é tão diversa e tão potente.

WiR: O que você acha que um DJ tem que ter para se tornar um profissional completo? O que você destacaria que está sendo bom para si mesma e que possa ser compartilhado para seus colegas?

Eu acho que os desafios de se tornar um DJ profissional de destaque, os desafios mudaram muito de alguns anos para cá, né? Hoje em dia, obviamente, a gente tem muito mais facilidades e acesso à questão da tecnologia, à questão de como você vai trabalhar a sua carreira, como você vai fazer as suas produções musicais, mas ao mesmo tempo também o mercado ficou muito mais acirrado. Tanto em volume de profissionais, quanto de qualidade mesmo de profissionais. Vide o que tá acontecendo no Brasil hoje em dia.

Antes você tinha, enfim, meia dúzia de grandes nomes de DJs no Brasil, principalmente DJs que iam para fora, que viravam internacionais. E hoje você vê um movimento muito legal de vários artistas crescendo nas suas mais diversas vertentes, homens e mulheres. Então definitivamente você precisa ser um profissional mais completo para se destacar. Então tudo começa para mim, realmente, com a coerência de pessoa que você é, né? Como você se porta, como você se posiciona, se você é coerente com a pessoa que você é e com o ritmo e a sonoridade, as bandeiras que você traz para pista.

E, obviamente, número um, amar a música. Realmente, você tem que ter esse propósito mesmo de amar a música, ter esse compromisso de entender que a discotecagem, o DJ, ele é o fio condutor para expandir os horizontes da música, levar a música para mais pessoas de uma maneira profissional, de uma maneira pensada, estudada e começar, obviamente, por esses elementos básicos.

Então, estudar muito, sempre, o tempo todo, estar atento às novas tecnologias, ao que está acontecendo, as possibilidades que você tem novas, de expandir os seus conhecimentos técnicos, isso é muito importante.

Um ponto também que eu destaco, que eu faço muito dentro da minha carreira e que me ajuda muito é definitivamente ter um cuidado com a sua comunicação. Então, a partir do momento que você tem esse cuidado, você também entende que esse é um ponto das bases para ser um profissional que tem alcance, que tem destaque, você começa também a separar um pouco do seu tempo para esse cuidado, né?

Hoje em dia, com tantas possibilidades de acesso a conteúdo, você também precisa se destacar nisso. Não que esse seja o elemento principal, mas se as pessoas conseguem ter acesso a você com conteúdos legais, muito provavelmente você vai conseguir entrar dentro da casa das pessoas de uma maneira interessante também.

Óbvio que comunicação sem conteúdo não adianta nada. E quando eu falo de conteúdo, não é fazer um vídeo legal. É você realmente ter o que mostrar. Então, você ter pesquisa, você ter música, você ter boas técnicas, você entender a importância do profissionalismo, da discotecagem. Então, é realmente fazer conteúdos legais, mas de fato tendo que mostrar.

E nisso realmente é um ponto que eu compartilho com colegas que estão começando, com artistas que estão começando, que é: faça com o que você tem, com o recurso que você tem. Se o seu recurso é apenas um celular que não é tão bom, mas é um celular que você consegue gravar alguma coisa e postar ali nas suas redes, faça.

Comece do jeito que você consegue fazer. E trabalhe outras redes também, não fique em uma só. Então a capilaridade hoje em dia de plataformas é interessante. Obviamente hoje a gente tem o Instagram aqui no Brasil que é uma plataforma muito, muito, muito potente, mas você também pode trabalhar algumas coisas no YouTube, em outras redes, nas plataformas de áudio como SoundCloud, poste sets, faça sets. Esteja presente, se mostre, seja presente para as outras pessoas. Isso vai ser bom tanto para o seu público quanto para possíveis contratantes.

Só completando um ponto aqui que às vezes parece óbvio e bobo, mas tem uma questão também para você conseguir de fato ser um artista com visibilidade, além de todos esses pontos que a gente conversou, é ter personalidade, né? Você se inspirar em outros artistas, em outros DJs, é ok. Mas querer ser o mesmo ou copiar não te leva longe. Eu acho que, definitivamente, você ter personalidade, você fazer o que você acredita de forma singular e de forma única, também provavelmente vai te garantir um alcance e um destaque mais singular.

WiR: Outro fato é o seu amor pela Defected. Como surgiu essa “relação de amor” com uma das maiores representações do house mundial?

Eu fico super feliz de ver essa label que eu respeito e que eu admiro tanto, ganhar tanto espaço aqui no Brasil nos últimos anos, mas a minha conexão e a minha admiração por essa label de house music vem bem antes, assim. Eu já acompanho o trabalho da Defected há muitos anos, justamente por sempre ter entendido que era um selo que priorizava e enaltecia a house music, né? Não só a música house, como a cultura house.

Antigamente era um selo muito nichado, já era importante dentro do segmento, mas era um selo muito nichado, e hoje em dia ganhou e tem ganhado esse espaço tão grande aqui no Brasil e no mundo, né? Sendo definitivamente talvez o maior selo de house music da atualidade.

Eu realmente tenho uma conexão com eles grande, converso e troco ideias com vários artistas, vários produtores da Defected, e é muito legal ver o quanto eles são abertos também a sempre me receber e me responder e conversar comigo. Então, realmente é uma relação que eu tenho muito carinho e afeto.

WiR: Além disso, você segue com uma personalidade muito expressiva e que atende a diversos públicos. Nesta semana teremos o Tokka Pride, um evento que representa e celebra, juntamente com uma boa música eletrônica, o bem estar da comunidade LGBTQIAP+. Você já participou de eventos e projetos que visam a luta dessa comunidade que é tão julgada ainda em 2023, o que essa luta e a presença no evento representa para você?

Bom, como a gente já conversou, eu sou uma artista que toca house music, que leva house music para diversos palcos e diversas cidades do Brasil e também fora do Brasil. Então se a gente for no mínimo respeitar e enaltecer essa cultura e ter consciência que a gente toca muito mais do que um ritmo e sim toca um posicionamento, toca uma bandeira. A gente sabe que essa cultura e esse ritmo veio do público LGBTQIAP+.

É uma honra e uma oportunidade incrível poder me expressar como artista tocando house music em uma festa que traz muito do que é a cultura da house music. E mais do que isso, o TOKKA Pride esse ano, na verdade ele já faz esse trabalho há muito tempo, mas ele é muito mais do que uma festa paara se tocar música e house music e ritmos de música eletrônica, mas ele é uma plataforma de posicionamento, de fomento a essa cultura e a esse público que é tão importante sobre diversos aspectos.

Eu como artista que toco house music, tenho que ter a consciência de que eu estou num lugar muito sagrado para cultura do ritmo que eu toco. Então, é um prazer enorme, eu fiquei muito feliz com o convite, estou super animada para tocar nesse grande festival que vai ser a edição de 2023 e eu estou com as expectativas e animadíssima para estar lá amanhã com todo mundo.

WiR: A House Music sempre esteve presente, independente do momento. Você acha que com a sua ascensão e a de outros colegas que também compartilham dessa cena podem pulverizar mais e trazer mais diversidade nos line-ups?

Eu realmente acredito que quanto mais DJs tocarem house music de uma forma profissional, consciente, séria, esse ritmo e essa cultura de fato podem ganhar cada vez mais espaço aqui no Brasil, né? Em vários lugares do mundo ela já é muito difundida, no Brasil ela sempre existiu, mas de fato eu acho que está tendo um freshness, um respiro novo, um olhar novo para a cultura e para o ritmo da house music aqui no Brasil.

A gente precisa ter cada vez mais artistas que tocam isso e cada vez mais diversidade e nomes diferentes, né? Às vezes a gente fica “ah, legal, a gente tem aquele ou aquela representante da House Music”, mas isso tem que abrir portas para muitos outros e outras artistas.

Eu acho que esse é o grande lance, assim, quando eu vejo que um set meu é bem aceito por um público, é legal ver que eles me aceitaram como artista, mas é muito legal ver que eles aceitaram a house music também e que vai ser muito legal quando outros artistas tocarem para esse público e eles também absorverem de maneira positiva.

Então, definitivamente, eu acho que quanto mais DJs profissionais, sérios, conscientes, tocarem house no Brasil, mais oportunidades para outras pessoas vão ter também, é isso que a gente espera.

Confira mais do trabalho de Camila Jun abaixo:

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Escrevo o que eu vejo de interessante na cena, estudo jornalismo e pretendo fazer disto a minha vida. Unir a música eletrônica e a vontade de mostrar os inúmeros elementos que compõem ela, me faz tornar vivo e ser quem eu sou. Escuto de tudo por aí... Inclusive o que a maioria não curte ou julga.