Coletivos do Brasil: Coletivo Pirajá

Baseado no Rio de Janeiro, o Coletivo Pirajá traz em seu DNA a retomada às raízes da house music com muito groove e forte influência da black music. Como colocado por Simo, um dos sócios, o coletivo traz em sua identidade sonora uma viagem no tempo às origens da house music.

Durante a pandemia, o coletivo encontrou meios alternativos de trazer suas ideias à vida. Com três projetos audiovisuais distintos elaborados durante a quarentena, batizados de Radar Pirajá, Estúdio Pirajá e Improvisação Controlada, o coletivo se manteve expressivo na cena nacional trazendo diversos convidados, como Flo Massé e Leo Janeiro, que apadrinhou o projeto em seus primórdios.

Cada um desses projetos traz um conceito único. O Radar Pirajá consiste na gravação de sets em locais incríveis combinado com uma entrevista com o convidado. Já o Estúdio Pirajá, focado em artistas menores, traz um espaço para o artista explorar livremente, acompanhado de um fundo gerado pelo Chroma Key. Por fim, a Improvisação Controlada é um projeto de jam session livre com uso de synths e drum machines.

Hoje, o coletivo carioca se faz presente na cena com seus eventos autorais e integrando line-ups diversos no Rio de Janeiro e em outros estados. Ainda, a equipe lançará nesta sexta-feira (24/03) sua primeira compilação, que contará com a participação de mais de 20 artistas. O VA terá seus lucros revertidos para o Instituto Mpumalanga para auxílio das famílias afetadas pelas chuvas no litoral norte de São Paulo.

Leia abaixo nosso bate-papo com Simo e Vitor, representantes do Coletivo Pirajá:

1 – Contem um pouco como começou o coletivo.

Simo: Foi no carnaval de 2019, com o primeiro evento que nós produzimos. Na realidade, queríamos fazer um evento em Paquetá. Conversando com o Man from Rio, pensamos em fazer um evento em uma boate, mas não era muito meu perfil. Então acabamos fazendo uma studio session. O Pirajá surgiu da minha amizade com o Luca (Man from Rio) e, depois, os amigos de cada um foram se unindo.

Vitor: Se eu puder sintetizar a criação do Pirajá, foi uma junção de momentos muito parecidos. Antônio tinha voltado de Berlim, com outro sócio e eu tinha voltado de Barcelona, onde fiquei completamente imerso na cultura da música eletrônica. Nosso outro sócio, Luca, também tinha passado o verão em Berlim. Como vimos muita coisa diferente e consumimos muita coisa diferente da cultura da música eletrônica na Europa, chegamos no Rio e ficamos um pouco desapontados com o que estávamos encontrando de serviços e estruturas. Então resolvemos nos juntar e fazer algo diferente.

2 – O que motivou a criação do coletivo?

Coletivo Pirajá: O sentimento de querer fazer uma festa que não fosse extremamente comercial, nem extremamente underground, mas uma coisa que os amigos pudessem curtir música boa.

3 – Quais são os principais desafios na execução do projeto?

CP: A coordenação de várias áreas para várias pessoas. Como somos muitos sócios, acaba sendo bom por um lado porque temos várias pessoas para ajudar; mas pesa um pouco para o outro lado porque somos muitas mentes pensantes, cada um com suas ideias. Conseguir executar tantas ideias diferentes é difícil, pois somos pessoas diferentes, com backgrounds distintos.

4 – Como cada membro agregou para trazer esse plano para a vida real?

CP: Tivemos uma junção de diversas personalidades que se encaixaram. Cada um tem uma vocação natural que soubemos usar muito bem.

E os projetos que não sabíamos como desenvolver, somamos com pessoas de fora. Um exemplo foi o Victor Haas, queríamos fazer um projeto audiovisual e convidamos ele para nos ajudar a fazer acontecer. Quando pensamos no Pirajá, pensamos não nos sócios, mas sim em um grupo de umas 30 pessoas, que estão sempre próximos desde o começo.

5 – Quais foram os momentos mais marcantes da vida do coletivo?

CP: Um dos momentos mais marcantes foi um retiro que fizemos na pandemia em Angra dos Reis. Tocamos por 26 horas com nossos amigos. O apoio muito próximo desses amigos fez uma grande diferença para o Pirajá ser o que é hoje.

Um outro momento que nunca vamos esquecer foi um evento nosso que choveu muito, um dilúvio mesmo, no dia do nosso evento. Por causa da chuva, o staff do evento não conseguiu chegar e o público também não. O evento durou 17 horas e ficamos tocando. De manhã, no final do evento, vimos o prejuízo surreal que tomamos. Metade dos sócios riram, outros começaram a chorar. Não é uma lembrança boa, mas faz parte da vida do produtor de evento. Hoje em dia damos risada, mas no dia, rolou até tapa na cara de um dos sócios hahahaha.

Outro momento que nos marcou foi um dia na pandemia, em que fizemos uma festa de um dia todo em formato de live. Cada residente tocou em sua casa e a transmissão passa de um canto para o outro da cidade. Arrecadamos mais de seis mil reais que doamos para a equipe do Quem tem fome, tem pressa.

6 – Quais são as metas com o coletivo (quais artistas querem trazer, quais eventos querem produzir)?

CP: Bom, dia 24/03 teremos o primeiro lançamento do Pirajá como label. Vamos fazer uma compilação com mais de 20 artistas, que são amigos que conhecemos no meio da música. Vamos lançar pelo Bandcamp e o dinheiro será arrecadado para as famílias vítimas da chuvas no litoral norte de SP.

Para 2023 também queremos focar nos lançamentos, chamando artistas que gostamos muito e continuar fazendo nossas festas.

Também queremos fazer colaborações com marcas que condizem com o coletivo. Agora fizemos um evento com a Redley, que tem tudo a ver com o estilo de vida carioca, muito parecido com a gente. Queremos englobar artistas e marcas que achamos interessantes.

Também estamos pensando em expandir e sair do Rio. Fazermos festas no Sul, em São Paulo e na Europa em agosto.

7 – Coletivos referências dentro da cena?

CP: Em um primeiro momento, Gop Tun e Selvagem. Já a Bugpixel, pela seriedade e compromisso com a música; e 4 finest ears, pelo repertório amplo. E também 0dB, Subdvisions, Bruma e Festa até as 4.

8 – Como vocês percebem a cena nacional?

CP: Você pode enxergar a cena como entretenimento ou como a única coisa que você pode fazer. Existe uma mistura entre a arte por entretenimento e a vertente mais conceitual, com mudanças sociais efetivas, realmente produzindo efeitos na sociedade.

No Rio, vemos que os coletivos se ajudam, muito diferente de São Paulo, que tem a cena mais dividida. Queremos continuar agregando para uma cena nacional unificada.

 

Maria E. Pisani

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Maria E. Pisani

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