Todas as manhãs, milhões de pessoas acordam com um copo de café e suas músicas favoritas — e há uma boa chance de que elas estejam usando um serviço de streaming de música. Nos Estados Unidos, o Nielsen Music/MRC Mid-year Report descobriu que as plataformas de streaming de áudio forneceram 79% das músicas ouvidas pelos consumidores norte-americanos na primeira metade de 2020 (o streaming de vídeos veio logo em seguida). Mas por trás desse cenário normal, há agentes nefastos tentando tirar proveito dos serviços de streaming e das gravadoras — roubando a receita dos seus artistas favoritos. Streams falsos custam aos artistas até US$ 300 milhões por ano. E — muitas vezes — isso é feito por bots.
A economia do streaming
A primeira coisa que precisamos entender é como a economia do streaming funciona. Quando você paga por uma assinatura mensal ou escuta um anúncio entre uma faixa de música e outra na sua conta gratuita, esse dinheiro é adicionado a uma reserva.
A plataforma de streaming toma uma parte para si, o que equivale a certa percentagem da reserva, mas a maior fatia é usada para pagar gravadoras, distribuidoras, publishers e sociedades de gestão coletiva. Esses grupos, então, pagam os músicos de acordo com seus contratos individuais.
O dinheiro da gravadora e da distribuidora é alocado de forma proporcional; então imagine que a cantora Enya receba 2% do total de streams em uma plataforma certo mês, a gravadora da Enya recebe 2% do total da reserva de receita alocado aos titulares dos direitos autorais naquele mês, para então ser distribuído para a Enya com base nos termos do contrato dela com a gravadora.
Como as fraudes ocorrem
Há duas áreas principais de ataque onde os bots fraudadores usam para redirecionar receita de streaming para o bolso deles. Este vídeo mostra um local com milhares de dispositivos tocando músicas em loop, o que dá um ideia da escala dessas fraudes.
Os bots possibilitam que pessoas que não são artistas desviem milhões de dólares de artistas legítimos ao criar milhares de contas falsas e fazê-las tocar faixas registradas por um fraudador. Mas como eles geram receita?
O MusicBusinessWorldwide (MBW) explica como essas audições falsas são transformadas em dinheiro vivo. Imagine que você crie mil contas por US$ 9,99 por mês. Isso significaria um gasto de US$ 10 mil por mês. Mas em termos de renda? Para calcular a receita mensal, é necessário considerar que em muitos serviços de streaming, uma faixa precisa ter uma duração de 30 segundos para ser monetizável. Um dia tem 86.400 segundos.
Com uma habilidade super-humana para ouvir música, os bots escutam 2.800 faixas por dia por dispositivo — 2,9 milhões faixas em um local com mil dispositivos. Em um mês, isso resulta em um total de 86.400.000 faixas tocadas. Mesmo se considerarmos uma fração de um centavo por faixa tocada, ainda há uma estimativa de um quarto de milhão de dólares por mês. Tudo isso pelo custo de mil assinaturas, mais despesas gerais. E não é difícil começar uma operação dessas. Este artigo da Vice dá uma ideia de quão simples é estabelecer uma operação de “cliques fraudulentos na área musical”.
A máquina de faz de conta
Outra forma de os fornecedores de bots burlarem o sistema é enfraquecendo um dos fundamentos principais da promoção no mundo da música: para ganhar atenção, você precisa dar atenção. A atenção das pessoas é criteriosa e, muitas vezes, de curta duração, por isso, os fraudadores seguem o grande público para descobrir o que é popular.
Fornecedores de bots inescrupulosos oferecem aos artistas a possibilidade de driblar a ordem natural das coisas e comprar streams em massa. Por um simples pagamento adiantado, os fraudadores oferecem uma enorme quantidade de bots com dispositivos que escutam suas músicas milhares de vezes, o que acarreta em um posicionamento melhor nas buscas, a possibilidade de aparecer em playlists populares e, acima de tudo, — atenção. Embora não seja um golpe financeiro direto contra os artistas, isso tem um impacto no sentido de que a atenção não está sendo dada a quem realmente merece, mas a quem pode pagar por bots.
No competitivo mundo da música profissional, isso pode se tornar uma batalha até para os fãs, que entendem que os streams e os rankings são a moeda da popularidade. Os fãs de K-Pop são conhecidos por ter uma filosofia inescrupulosa para promover seus artistas favoritos, incluindo o uso de de bots para assegurar o topo das paradas. Em coreano, existe até uma palavra para isso: sajaegi.
Como derrotar os bots
Tanto para gravadoras quanto para serviços de streaming, validar a integridade dos streams é essencial para assegurar uma alocação justa das receitas de streaming para artistas e titulares dos direitos autorais. Contudo, assim como em categorias como Jogos e E-Commerce, a ameaça de uma fraude provocada por bots é real agora e no futuro.
A proteção se torna mais sofisticada e os ataques, também. Para ficar à frente nesse jogo de gato e rato, é essencial ter preparo em um nível organizacional: pessoas capacitadas para lidar com esse objetivo específico. Tenha uma equipe especializada para ficar por dentro das últimas inovações tanto nas fraudes por bots quanto nas medidas de prevenção.
Dessa forma, as atualizações do seu aplicativo podem ficar à frente das fraudes, e o software de prevenção para aplicativos mais recente pode ser adquirido cedo. Comunique aos consumidores que você leva a sério a ameaça apresentada pelas fraudes por bots e está tomando ações, isso ajudará a aumentar o nível de confiança no seu aplicativo.
Porém, apesar do estrago provocado, os rastros digitais que os bots deixam não podem ser detectados facilmente. Essa é uma tarefa grande demais para ser realizada totalmente por seus funcionários. Por isso, é importante que sua equipe interna tenha acesso a ferramentas de ponta para detectar e eliminar os bots. Usando machine learning e a complexidade dos dados sensoriais anonimizados da interação entre humanos e dispositivos, as soluções de detecção de bots podem distinguir os padrões de comportamento que separam os humanos dos bots. A partir daí, é fácil acabar com os bots e recuperar o controle da economia de streaming.
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