Desde quando a música deixou de ser prioridade?

Quando eu conheci a música eletrônica, vi um mar de possibilidades em que este setor poderia se destacar em nosso país. E, olha, cresceu bastante. Ela conseguiu se expandir para multi eventos com públicos alvo e culturas totalmente distintas da que vivemos em nosso mundo.

Mas, passando os anos e uma terrível pandemia que nos tirou a alegria e o prestígio de curtir uma pista de dança, me fez repensar tudo para o que estamos vendo agora.

Então, surgiu uma pergunta muito sincera que pairou na minha mente por mais de um mês: Desde quando a música deixou de ser prioridade?

O retorno das festas

Entendo que a ansiedade das pessoas em retornar às pistas era muito evidente, afinal ficamos 2 anos trancafiados sem poder compartilhar grandes momentos.

Porém, parece que criamos uma expectativa que vai além da atual realidade, mas também essa mesma expectativa nos faz repensar no que estamos vivendo atualmente.

O ano de 2022 chegou e com ele vieram muitos eventos, até então estávamos aliviados de poder encontrar amigos e vivenciar uma ótima festa. Entretanto, com o avanço da famosa tecnologia e as novas formas de trazer uma experiência mais surreal, fizeram-nos transformar em “sommeliers de festa”.

É fato que sempre queremos uma festa que seja agradável para o nosso conforto e para agregar a nossa experiência. Portanto, é normal virem as críticas quanto a estrutura, bares, áreas destinadas para tal coisa, etc.

Outra realidade é que, se tudo funciona bem, estamos bem com isso e vamos para a próxima edição.

Chegou a 2023 e com ele mais eventos, festivais, showcases, enfim. Festivais gigantes retornaram ao Brasil.

Artistas que não vinham há anos, estão de volta. Expectativas foram aumentadas e, de fato, o fã quer muito que os eventos internacionais superem o esperado imaginado na própria cabeça dele.

Estamos sendo fiéis ao propósito da música eletrônica?

Anteriormente, via bastante expectativa de tal DJ vir ao nosso país para fazer um show ou uma turnê. Mas, ultimamente, não parece ser o suficiente.

Com o retorno desses artistas e grandes festas, a expectativa gerada pela própria consciência do fã e de sua comunidade, nos gerou uma busca incessante pelo Line Up perfeito.

Afinal, “QUEREMOS IGUAL COMO É LÁ FORA! Mas, não seria exagero estes “pseudo fãs” pararem para refletir que lá fora não é igual a realidade daqui?

Isso gerou uma comunidade mais tóxica e mais sedenta por festas perfeitas que só vão existir no imaginário delas. E para elas, nunca será perfeito se não trouxerem o que elas querem.

Afinal, você veio ouvir um bom set ou veio apenas encher o saco?

Os “sommeliers de festa” aparecem quando você menos espera. Eles são prepotentes, querem do jeito deles ou do jeito que foi a outra edição lá onde o Judas perdeu as botas.

Mas, me vem à cabeça a questão: Para você, importa mais ouvir um set com música boa ou adereços que só vão complementar algo que não tem nada a ver com a música?

Isso pode frustrar e afastar aqueles que nem entendem da cena atual por conta de uma opinião com viés ultrapassado.

A música eletrônica é para todos os gostos

Como dito na introdução desta coluna, nossa cena chegou a patamares que jamais imaginaríamos há décadas. Todo evento tem um DJ, seja abrindo a festa, no intervalo de bandas ou encerrando.

O desafio atual dos grandes festivais e festas em clubes e espaços por todo o Brasil, é trazer o que temos de melhor, independente dos estilos. E sim, sempre vai faltar aquele DJ lá que está fazendo um bom trabalho.

Mas, quem sabe com o seu apoio nas redes sociais dele, nas plataformas de streaming e compartilhando o trabalho do artista com outras pessoas, possa fazer com que seu evento preferido traga ele para tocar na próxima edição?

Espaço tem, mas o seu papel como um fã ou um adorador da música eletrônica é contribuir para que este espaço seja diversificado, descontraído e que reine o que verdadeiramente faz toda essa roda girar: a música.

Vale a reflexão!

Eu não escrevi isso no intuito de prejudicar aos que criticam e sim aos que são verdadeiramente chatos.

Se você fizer um exercício de reflexão e perceber que você está sendo tóxico e entender que o retorno de todos os eventos ao redor do Brasil é uma oportunidade única, perceberá que isso só vai fortalecer um cenário para todos.

Afinal, se o evento for ruim mesmo e não atender às suas expectativas realistas do que estamos vivendo hoje? Vale a pena a crítica para que clubes, produtoras, labels, festivais e outros, possam melhorar nas próximas edições.

Curta, viva o momento e compartilhe suas experiências! Sinta o poder da música fazer você ter momentos inesquecíveis.

Agora, se você acha que os adereços complementares, como efeitos, fogos de artifício, papéis picotados e outros que fogem da verdadeira essência de uma festa de música eletrônica for maior do que prestigiar o som dos artistas daquele Line Up que você comprou para ir? Acho melhor revisar o porque você gosta de música.

Afinal, você deixou a música fora da prioridade.

*Esta coluna não reflete necessariamente a opinião integral da Wonderland in Rave

David Barbosa

Escrevo o que eu vejo de interessante na cena, estudo jornalismo e pretendo fazer disto a minha vida. Unir a música eletrônica e a vontade de mostrar os inúmeros elementos que compõem ela, me faz tornar vivo e ser quem eu sou. Escuto de tudo por aí... Inclusive o que a maioria não curte ou julga.

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David Barbosa

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