Entrevistamos Etcetera e DJ Mau Mau, b2b que levou house music para o The Town

O The Town juntou uma dupla que sempre esteve nos holofotes representando o house nacional, trata-se de DJ Mau Mau e Etcetera. Os dois se apresentaram e proporcionaram um set memorável e nostálgico de faixas que inspiraram muitos na cena paulistana por anos.

Eles separaram um tempo para falar conosco de histórias que fizeram eles adentrarem neste mundo e o que isso representa para eles até aqui. Além disso, falaram dos desafios da cena underground para quem iniciou em um mundo com uma cultura totalmente diferente do que temos hoje.

 

WIR: Estamos com DJ Mau Mau e DJ Etcetera, fizeram um set lindo no New Dance Order. Mau Mau queria iniciar com você, o New Dance Order, junto ao The Town, está celebrando a cena underground de São Paulo e você é um dos pilares desse movimento. Como você se sente em relação a isso?

DJ Mau Mau: Estava falando agora há pouco que essa trajetória toda até agora no The Town, foi um percurso que eu pensei em desistir. Porque era difícil conseguir material, difícil conseguir arrumar lugar para trabalhar. E, olha, que no início, era muito diferente do que as pessoas estavam acostumadas. O underground há 35 anos era outro cenário, então ver essa transformação, acompanhar tudo e ver onde eu cheguei e estar aqui é um presente, uma dádiva estar aqui falando e tocando e fazendo o que eu gosto.

WIR: Em relação a isso, Etcetera, você tem uma carreira que cresceu muito rapido, tocou em grandes festivais já com pouco anos de atuação no house, e muito disso se deve a essa luta que o Mau Mau passou né, isso torna esse B2B mais especial ?

Etcetera: Demais! Estava até lacrimejando quando ouvi o Mau Mau falar disso, por mais que hoje seja tudo diferente, eu carrego muita potência pra gente que faz parte disso, mas pra fora pro comercial houve muitos bloqueios.

Eu tenho 10 anos de noite, 5 em drag e foi quando assumi a drag que cheguei a perder grandes contratantes da época que não entendiam a minha escolha, mas fazia muito sentido pra mim porque a arte me abraçou e descobri minha persona diante disso tudo e fez muito mais sentido estar no house com essa representatividade, mas foi bastante difícil.

Hoje estou aqui refletindo e vendo que eu, também, já pensei em desistir muitas vezes, cheguei quase a perder o tesão. Mas não me vejo fazendo outra coisa, nada me faz sentir a vibração que eu sinto quando estou lá em cima e conseguir estar hoje no The Town, lembrando das coisas que já aconteceram, com o Mau Mau, ganha-se um respeito.

A história do house veio da mão preta, travesti, queer, parte disso entra na minha vida como uma pessoa queer. Você ter essa representatividade com uma pessoa que está há mais tempo escrevendo essa história é muito gratificante! Que eu possa ser exemplo para muitos que apareçam por aí!

Muitos diziam que eu era a única que fazia o que estamos fazendo hoje, mas estamos vendo que não. Alguém precisa ocupar este espaço de representatividade para que outras pessoas saiam do anonimato e metam a cara, é difícil mas é importante que isso aconteça. Precisamos entender que temos que fazer parte disso!

WIR: Você começou fora da House, iniciou com outras sonoridades e depois migrou para o estilo. Vemos o Techno Melódico invadindo as pistas e virando um som até comercial hoje em dia, em relação ao House, temos grandes nomes voltando ao Brasil todo momento, eu queria saber como você vê a cena da house no Brasil.

Etcetera: Hoje está muito massa! Eu comecei do pop, ouvia com meu irmão o house, minha referência do house eram das músicas que ouvia com ele. Mas, na época, eu já gostava de pop e as festas já contavam mais com esse estilo e o house não tinha essa perspectiva de muito ganho.

Mas, hoje, estamos vendo que está ganhando espaço no mainstream. Eu vejo um house muito raiz na cena e nos holofotes e eu nunca me senti tão confortável tocando há anos. Eu vesti a alma do house, do disco, ver ele acontecendo de fato e tão rápido. O techno se mostrou forte nos últimos anos, mas o house sempre esteve presente porque antes de qualquer estilo, o house foi o pioneiro.

WIR: Mau Mau, falando de grandes momentos. Um dos grandes momentos de sua carreira aconteceu aqui em Interlagos em 2002, no Skol Beats. Queria saber se você ainda lembra, tem alguma memória afetiva daquele momento?

DJ Mau Mau: O Skol Beats de 2002, foi um grande marco na minha carreira. Aquilo foi uma chave que virou, já estava com um nome bacana, mas depois daquilo as coisas se transformaram muito além do que eu esperava.

Rendeu capa de livro, rendeu várias coisas daquele momento para cá. E estive outras vezes aqui depois daquele evento, mas sempre volta o filme na cabeça desses momentos que eu não consigo esquecer.

Quando cheguei aqui, até comentei: “Nossa, o Skol Beats aconteceu aqui, naquele tempo!”, esses momentos ficam guardados. Acho que nosso trabalho é isso, momentos que guardamos com carinho, pessoas que a gente conhece e músicas que a gente viveu e está tudo certo.

WIR: Etcetera e Mau Mau, muito obrigado pela oportunidade!

Não deixem de seguir Etcetera e Mau Mau no Instagram.

Vinicius Pierozan
Vinicius Pierozan
not your average bald and bearded clubber.

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