Gabriel Twadowski, videomaker do Alok, fala sobre a cena audiovisual Brasileira

materia por: Ianne Souza

Desde sua invenção, no final do século XIX, o cinema se tornou um dos mais populares e influentes meios de comunicação de massa em todo o mundo. É uma forma de arte que utiliza técnicas visuais e sonoras para contar histórias, provocar emoções e nos transportar para outras realidades. E para isso, ele conta com um instrumento poderoso: o audiovisual.

O audiovisual foi criado a partir da descoberta e criação do rádio, da fotografia que é o ato de congelar a imagem, e do cinema – que são vários frames em sequência, criando movimento. O sentido do audiovisual é expressar coisas através da junção do áudio e vídeo, proporcionando sensações, comunicação visual e experiências.

Os provedores de serviços audiovisuais, nos dias de hoje, oferecem serviços de streaming na web, videoconferência, transmissão ao vivo e vários conteúdos em diversas mídias sociais. Ficamos tão fascinados com o que esse mercado nos proporciona que não pensamos no trabalho por trás de tudo isso. O audiovisual engloba vários conceitos dentro do mercado, vai dos detalhes que vemos até os detalhes que não conseguimos visualizar ou imaginar. Isso é uma criação artística dentro do entretenimento.

A importância e o impacto da indústria do audiovisual para experiências e vivências é extremamente necessário para o tempo digital que vivemos. Como somos um portal de música, vamos explorar como o mercado audiovisual tem caminhado lado a lado com a cena da música eletrônica há bastante tempo.

Sabe quando descobrimos um aftermovie de um festival, onde ele nos faz sentir e desejar algo, tipo ir para aquele festival ou aquela festa? Todos os elementos no vídeo nos despertam coisas, provocando um sentimento ou uma sensação, certo? E para fazer aquilo há todo um trabalho por trás de diferentes profissionais do audiovisual. Os avanços nas tecnologias digitais trouxeram mudanças na maioria dos aspectos do negócio da música, levando em conta que com a produção audiovisual de algum produto, a intenção é vender algo inovando a liberdade da arte, explorando a inovação da tecnologia e da criatividade.

Transmitir algo é escrever e mostrar história, do que vai e pode acontecer ou do que aconteceu. A importância de levar essa informação e mensagem é crucial para conseguir transmitir tal evento, tal festa, tal artista e tal momento.

Nós, da Wonderland in Rave, tivemos o prazer de entrevistar o Gabriel Twardowski, jovem curitibano de 27 anos que está na estrada há 5 anos com o maior DJ do Brasil e um dos principais do mundo, Alok. Confira abaixo a entrevista:

Gabriel Twadowski
Creditos: Filipe Miranda

1 – Olá Gabriel, é finalmente um prazer para nós da WiR, de ter a oportunidade desse contato. Para começar, conta de você e há quanto tempo entrou no mercado audiovisual e porquê?

Gabriel Twardowski: Eu tô no mercado como diretor de cena assumido vai fazer 5 anos, mas como filmmaker fazem quase 7 anos. Estou no mercado por um sonho que eu vivo hoje. Sempre que eu falo de objetivos e por que eu to fazendo o que eu faço hoje, é porque eu sonhava muito lá trás, e lá trás eu via muito o meu irmão fazer tudo o que a gente faz hoje. Realmente para mim era um sonho estar com a câmera gravando, não só dirigindo, mas estar realmente fazendo trabalhos para clientes e artistas que eu admiro e respeito. O motivo pelo qual eu estou no mercado mesmo é porque eu sonhava lá trás, e hoje graças a Deus eu vivo isso.

2 – Como que o Alok chegou até você, e você chegou até o Alok?

Gabriel Twardowski: Então, o Alok via umas coisas no meu instagram. Meu irmão inicialmente começou a trabalhar com ele e já tinham projetos juntos há algum tempo e chegou um momento que ele chegou no meu Instagram. Eu fazia umas gracinhas nos stories, postava alguns trabalhos também e a partir disso ele começou a se interessar, e viu que tinha um potencial legal ali, até nas gracinhas que eu fazia, que era uns ganchos legais para fazer um tipo de conteúdo. E foi a partir daquele momento que ele me chamou e começamos a trabalhar juntos e não paramos mais.

3 – Quem te acompanha sabe também da sua habilidade de entregar stories criativos e incrivelmente hilários, e na verdade muita gente conhece você por isso. Tu poderia falar como que isso aconteceu e de onde vem tanta criatividade? Saudades dos stories inclusive.

Gabriel Twardowski: Eu sempre fui uma pessoa super reservada, ao mesmo tempo que eu sempre gostei de estar em vários ciclos e trocar muito com variados nichos e pessoas diferentes, sempre fui muito reservado. E a partir desse momento foi quando eu comecei a querer também fazer alguns stories meus. Eu não convivia com tantas pessoas assim, aí então os stories na época do Snapchat ainda foi o momento em que eu reaproveitei para realmente fazer algumas coisas que eu queria que as pessoas soubessem sobre mim, e de uma maneira que eu conseguia me expressar bem e da forma que eu acreditava. Era uma forma que ao mesmo tempo eu me apresentava pro mercado, com até umas skills ali sobre edição e um feeling ali mais focado para mídias, como também um pouco de como eu sou e como eu vejo as coisas. E essa maneira de ver as coisas no início eu tentava até me segurar um pouco pra mostrar, porque eu pensava: “Ah não, eu já sou um moleque muito novo e se eu mostrar isso talvez isso não seja tão bem visto no mercado e não me dê muita oportunidade com quem eu quero chegar e com quem eu quero trabalhar”. Só que acabou sendo o contrário, né? Não só com o Alok, mas acabei me aproximando de muitas pessoas por conta desses stories que acabaram abrindo um pouco mais esse espaço de troca com as pessoas, para que a gente se sinta um pouco mais confortável para conversar, mesmo que nunca tenha conversado com a pessoa antes, sabe?

4 – Após trabalhar com diversos artistas, para você, qual foi seu projeto mais marcante e por que? Sinta-se à vontade para falar sobre a história.

Gabriel Twardowski: Com certeza foi o ‘Memories’. Acho que não tem como ter sido outro trabalho porque no ‘Memories’ foi no momento que começou a pandemia, então eu estava acostumado em viajar toda semana e estar em turnê por 4 anos seguidos. No momento que começou a pandemia e os shows estavam sendo cancelados e tivemos que ficar em casa, a gente precisava de alguma forma criar conteúdo. Foi um momento muito diferenciado e eu pensei: “Beleza, estamos 4 anos viajando e o que a gente não faria em nenhum momento que não seja esse?”. Seria realmente revisitar esses episódios de imagem que a gente gravou porque a gente não teria esse tempo em nenhum outro cenário, mesmo em férias, a gente nunca poderia ter tanto tempo para executar um projeto desse tamanho. Então foi um momento bem especial onde a gente pôde revisitar tudo que a gente fez com o Alok todos esses anos, como também criar algo nosso, meu e do Sérgio. Não só pelo lado profissional como diretores, mas também como irmãos. Foi muito especial estar 4 meses juntos depois de alternar tanto quem viajava no final de semana e quem não viajava e faltar tantos compromissos familiares. Então, com certeza foi o ‘Memories’ que foi sobre reviver coisas especiais e viver coisas especiais.

“No total foram 4 meses de trabalho, resultando em 900 horas de imagem, 1500 impressões e 20 versões do projeto. Realizando a obra no depósito da loja de sapatos da cunhada, desenvolvendo um pequeno estúdio ali. Somente de pesquisa das imagens foram dois meses vasculhando por todos os hd’s em total de 30tb, procurando padrões de posicionamento de câmeras, um mês editando, e um mês gravando.”

“Precisava de 1 frame dentre tantos em um vídeo que casasse. Pesquisamos todos esses ângulos de imagem procurando uma cena e um momento ali específico para poder fazer esse passeio que a gente fez durante o show dele no projeto. Depois desses 4 meses de pesquisa, decidimos imprimir todas essas fotos porque era realmente um momento de muita nostalgia. Sem nenhum show, nenhum evento e ao mesmo tempo queríamos criar um novo vídeo de evento mesmo que não tivesse acontecendo. Decidimos então imprimir em papel fotográfico para trazer esse aspecto mais fotográfico de registro e de lembrança, e partir do momento que imprimimos os frames, fizemos intervenções para dar um aspecto de ainda mais manipulação de imagem. Foi todo um trabalho manual, então o vídeo todo é feito de fotos.” – Continua Gabriel.

5 – Na sua experiência e interpretação, na sua visão, o que é gostar de música eletrônica?

Gabriel Twardowski: Musica eletrônica eu acredito que seja um estado de espírito, é realmente estar disposto para receber a mensagem que ela está pra te passar e é o gênero que mais abre espaço pra interpretação. Dentre todos os gêneros o que mais eu vejo que precisa ser evocado em quem gosta porque ou você gosta ou você não gosta, não existe um meio termo. Um dos pontos que eu acho legal e que é um dos grandes acertos do Alok é que ele acaba conseguindo impermear esse lado da música eletrônica de quem é fã como também passeia pelo Pop, com um público que não está acostumado a ser “bombardeado” com a música eletrônica. Ele coloca elementos muitos sutis que traz essas pessoas pra perto, então essa abordagem dele sempre me encantou muito, acredito que é um dos motivos que fez ele chegar onde chegou.

6 – Agora, vamos pro seu profissional e unificar com a música eletrônica que te cerca. A cena audiovisual é extremamente necessária para vender seja uma música, um evento, uma proposta e entre outras mil e umas coisas. Para você, o que é necessário para fazer um projeto que possa impactar e passar tal mensagem?

Gabriel Twardowski: Você ter a verdade no projeto, por mais difícil que seja. Hoje os projetos acabam passando por várias mãos, e que nessas várias mãos muitas vezes ele acaba perdendo um pouco da essência do projeto, e fazendo para que não atinja onde ele precisa. É importante que você não perca essa essência, sabe, então eu acho que todos os envolvidos precisam realmente ter muita confiança. No caso da música eletrônica, o artista, quanto a agência dele, quanto os próprios empresários, às vezes é lógico, tem vários interesses comerciais envolvido em um material, mas acho que também é o momento de você entender o material. Cada material às vezes tem um lado um pouco mais comercial, ou às vezes você faz algo que teoricamente não é, mas que o comercial tá embutido ali, que eu acho que inclusive é o principal momento, o movimento que tá acontecendo agora, que é de você não explicitar tanto a venda, sabe, então acho que essa verdade é muito importante.

7 – Competitividade é algo que se tem muito nessa área? O que você acha sobre isso e o que seria a melhoria disso, abrindo espaço e oportunidades para novos profissionais.

Gabriel Twardowski: A gente está em um momento que tá muito legal, assim, acho que é um momento novo também, principalmente depois da pandemia. Eu vi que os profissionais saíram muito mais colaborativos pela primeira vez em muito tempo (pelo menos desde quando eu entrei no mercado, eu não tinha visto isso). Eu acho que é um movimento que está muito alinhado, essa era da colaboração que a gente tá vivendo, onde as pessoas buscam permear diferentes áreas e para isso trabalha com diferentes profissionais e clientes. Inclusive no próprio Alok a gente trabalha com diferentes agências, que fazem ótimos materiais e a gente acaba conseguindo colaborar junto, enfim, em vez de realmente só ir um ou só um fazer, então a gente tem uma relação bem legal onde todo mundo ganha com isso, sabe? Eu vejo que a gente tá começando a ter mais colaboração e isso não poderia ser melhor.

8 – Música é pra todos. Há uma pauta que não podemos deixar de lado de jeito nenhum que é a aparição da mulher, do corpo feminino para promoção de festas e festivais, e outros materiais. E também a branquitude ser a mais vista como mais bela e predominante. As narrativas podem ser criadas através dos elementos presentes na imagem, e é muito interessante ver que um detalhe pode mudar tudo e fazer toda a diferença. O que fazer para isso ser evitado e para mais pessoas terem acesso de fato a essa diversidade que tanto falam?!

Gabriel Twardowski: Perfeita pergunta! Eu acho que tem dois lados, até falando um episódio que me aconteceu antes de entrar no Alok. Eu fazia vídeo para altos eventos do Brasil não só de música eletrônica mas eventos em geral, e eu lembro que eu estava dirigindo e montando e chegou um pedido de alteração pedindo para colocar mulheres loiras e bem vestidas. Lembro que foi o momento exato que eu parei de trabalhar com aquele cliente e comecei a pensar muito mais sobre como eu podia não evitar nos meus vídeos mas como eu podia evitar que chegasse esse tipo de alteração, esse tipo de pedido de clientes assim. Aquilo me chocou muito na época, bati de frente e encarei aquilo e acabamos não fazendo alterações e ficou daquela maneira o vídeo, e fiquei pensando como evitar isso. Mas voltando à pergunta, acredito que são os dois lados da moeda. Tanto o lado dos clientes pararem de vender vídeos assim, e se você realmente está vendendo algo por esse caminho você está vendendo algo completamente errado, esse tipo de alteração não pode existir e eu sei que existe. Tanto do lado de agências e profissionais, como de ter vergonha na cara e parar de focar nisso. Acho que a gente tem que bater de frente com esse tipo de pedido, independente de ser cliente e etc, eu acho que tem um lado de ética e um lado muito de sociedade e comunidade que o nosso trabalho tem, de trazer pessoas e de agregar e não desagregar.

Então, a gente como profissionais do mercado precisamos bater mais de frente e ser mais incisivo nesse tipo de pedido porque não é um ponto profissional, é um ponto que vai muito além. É tanto o lado do cliente ter essa consciência, mas, como a gente não tá do lado do cliente, a gente não consegue tanto e não podemos contar, mas do nosso lado a gente pode educar. Lembro que eu e meu irmão, logo quando comecei a gravar Alok, a gente nunca focou em nada disso. Um dos principais pontos que vejo do trabalho que me deixa mais feliz, é trazer público que tá curtindo e tá feliz, é aquilo que a gente precisa, é aquilo que vende. Em resumo, cabe a nós, profissionais, que estamos produzindo o vídeo, de não deixar que isso chegue no material e seja vinculado, sabe? Enquanto houver gente que faça, tem gente que vai pedir.

A música é pra você agregar e trazer, é um ponto de paz, então, a partir do momento em que você faz o caminho contrário, você tá indo contra teu próprio produto.

9 – O que vai ser o futuro do entretenimento com o audiovisual em sua opinião?

Gabriel Twardowski: Acho que cada vez mais, e algo que eu senti quando comecei a produzir pro Alok, é o que o que ta vendendo são vídeos brutos, cada vez mais vídeos simples. Antes era uma câmera x, uma lente, uma edição, enfim, acho que tinha todo esse lado que mostrava que tinha explodido o evento, o show e isso vendia. Mas agora as pessoas estão bem mais atentas a isso, e sabem o quão fácil é manipular as cenas com edição. Então acho que tá caminhando em um sentido que cada vez mais vídeos simples estão indo bem, até mesmo com o próprio Alok. Ás vezes a gente grava vídeo que pra nós, os diretores, é algo que a gente gosta muito e acha que super vendeu o show, ele vai lá posta vídeo com o celular que alguém gravou estático ali parado no palco e aquilo mostra o quão verdadeiro foi aquilo, o quão realmente teve essa entrega. O futuro é realmente de materiais cada vez mais simples, e que tá tendo cada vez mais desapego com câmeras, com o que é gravado e tá mais focado no que é gravado. Nesse momento que tá acontecendo esse movimento, os artistas mesmo precisam se entregar cada vez mais pros eventos porque é muito mais fácil de você ver que alguma coisa bombou se deu certo ou se não deu porque, principalmente aquilo que a gente falou sobre acesso de informação, dessa era digital. Em que você pode ver um edit mostrando que foi um baita show mas na verdade as vezes você posta um story que você vê que não, que as pessoas estavam de costas pro palco e não tava curtindo.

Esse futuro do audiovisual é de algo cada vez mais simples em que os artistas têm que cada vez mais se reinventar e buscar apresentações que realmente entreguem para que essa venda aconteça cada vez mais.

Agradecimentos: Alice Marques e Gabriel Twardowski

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