Poucos artistas conseguem expandir os limites de uma cena como Loco Dice. Com Purple Jam — seu quarto álbum de estúdio, lançado hoje pela Virgin Records — o ícone de Düsseldorf apresenta uma ousada declaração musical que mistura gêneros de forma única. É um disco impregnado de estilo e design sonoro, que bebe da crueza do hip-hop, da fluidez da house music e do impacto do techno, tudo isso envolto na assinatura rítmica de Loco Dice: batidas encorpadas, grooves crus e implacáveis, e uma resistência constante a qualquer tipo de limite.
Após suas apresentações impactantes no palco Quasar do Coachella e no EDC Las Vegas, Purple Jam chega como um testemunho de 12 faixas que celebram décadas de dedicação à vanguarda da cultura clubber. Reunindo amigos e colaboradores de peso, o projeto não segue tendências — ele abre seu próprio caminho.
A jornada começa com uma introdução sombria e atmosférica, que define o tom como a agulha de um disco caindo numa sala enfumaçada. Samples fragmentados, ritmos fantasmagóricos e inovações sonoras constroem uma tensão harmoniosa e instigante. Essa energia carregada transborda em ‘Heavy Heart’, um hino sem fronteiras com a participação de Skrillex e do cantor e compositor nigeriano Fireboy DML. Músculo techno e emoção vocal colidem, entregando uma experiência que é ao mesmo tempo delicada e intensa — um som sincero para as pistas às 2 da manhã.
O fogo aumenta ainda mais com ‘Purple Kawasaki’ — uma faixa tecnológica, vibrante e construída com linhas de baixo inquietas. O groove continua firme quando o astro do rap italiano Guè entra em cena com ‘G Class’, adicionando uma dose de confiança refinada sobre as estruturas graves e precisas de Loco Dice.
‘One Round Baby’ direciona a energia para dentro, submergindo o ouvinte em uma enxurrada de bipes, texturas e melodias. Sua natureza hipnótica e imersiva flui para ‘High Roller’, uma verdadeira aula de minimalismo do tipo “menos é mais”. Criada com seu amigo de longa data Marco Carola, a faixa apresenta um ritmo enxuto e confiante que desenha um retrato vívido da house music moderna em sua forma mais pura.
Essa tensão refinada se intensifica em ‘Just Do It’, com uma performance vocal poderosa e cheia de alma de Moxie Knox. A faixa evolui de uma sessão intensa de percussão para um momento de pista em velocidade máxima, elevado por sintetizadores nítidos e precisos que entram exatamente no ponto certo.
‘Blowin’ Up’ acende o pavio do lado B de Purple Jam, explodindo com percussões precisas e sintetizadores vibrantes que estão sempre em movimento. ‘Juice’ mistura a precisão da house com o carisma do hip-hop em um coquetel pronto para as pistas, com colaborações de peso de The Martinez Brothers e do rapper Trinidad James. Juntos, eles criam uma faixa vibrante e cheia de camadas, com balanço, atitude e estilo contagiante para incendiar qualquer pista de dança.
Loco Dice aprofunda ainda mais suas raízes no hip-hop com ‘Ice Cold Dealer’, em parceria com o astro do rap alemão Haftbefehl, entregando uma batida gélida com um núcleo em brasa. Já ‘Megalodon’ arrasta a festa para águas mais profundas, onde uma onda de subgraves atravessa camadas de bateria detalhadas e sofisticadas.
A colaboração com Carl Cox em ‘Road Runner’ marca um capítulo especialmente significativo em Purple Jam — um verdadeiro momento de círculo completo para Loco Dice, já que foi Cox quem o apontou como uma promessa em sua primeira apresentação no Circoloco, em 2002. Agora, mais de duas décadas depois, os dois veteranos se reencontram em uma faixa alimentada por uma agressividade contida e uma linha de baixo pulsante — traçando um novo modelo para futuras armas de DJ com a mesma intensidade ritmada.
Loco Dice encerra Purple Jam com ‘Designer Kidz’, um desfecho futurista criado em colaboração com a 1 Up Crew. É a última pincelada do panorama sonoro do álbum, transformando samples e ideias em algo que soa ao mesmo tempo familiar e surpreendentemente novo.
Como seu quarto álbum de estúdio, Purple Jam é mais do que apenas uma coleção de faixas — é um verdadeiro mapa do DNA musical de Loco Dice: entre gêneros, gerações e culturas. Moldado por décadas atrás das pick-ups e por conexões profundas com as cenas pelas quais passou, é um trabalho que se enraíza na história, mas com os olhos voltados para o futuro.
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