O Bigroom ou Big Room, é um gênero predominante em grandes festivais de música eletrônica, que está presente desde 2010 mas que ganhou destaque em 2012. Podemos reconhecer o som em aftermovies dos festivais que sempre sonhamos em ir, e também nos sets dos maiores DJs do mundo. Muitas pessoas, assim como nós, já confundiram e ainda confundem na hora de notar a diferença entre o Bigroom e o Electro House.
Pensando nisso, hoje vamos entrar afundo nesse gênero, falar da cena em um contexto geral em relação aos demais gêneros da EDM e também entender porque o tal do estilo foi tão “odiado”. Convidamos o DJ e produtor DRIIIFT para complementar essa matéria. Confira a seguir:
O Electro House é basicamente um antepassado do Bigroom. A confusão existe por duas razões: a primeira é que o Bigroom é um derivado do Electro House, a sonoridade entre os dois no começo era muito similar, mas a grande diferença sempre foi o ritmo. Enquanto o Electro House é mais dançante e tem mais ênfase na batida, o Bigroom tem menos elementos rítmicos e mais foco na emoção, que geralmente vem por uma melodia chiclete e um drop mais agressivo, onde cabe muito mais cantar e pular que dançar. Atualmente dá para perceber perfeitamente a diferença entre o Electro House e o Bigroom já que ao longo dos anos os dois estilos se aperfeiçoaram ao ponto de manterem a sua essência, mas com sonoridades muito mais distintas. Uma referência perfeita para a sonoridade do Big Room atual é a gravadora Rave Culture dos W&W, já a referência perfeita do Electro House hoje em dia é a STMPD do Martin Garrix. (DRIIIFT)
A segunda razão é que quando o Bigroom estourou lá pra 2012, os grandes sites de venda/stream de música pra DJs e entusiastas (como Beatport, iTunes… etc) categorizavam o estilo como Electro House (o próprio Beatport só criou a categoria Big Room em 2016), isso acabou confundindo muita gente já que quando o nome Big Room começou a aparecer, todo mundo já o conhecia por Electro House. (DRIIIFT)
As gravadoras mais conhecidas pelos famosos hits de Bigroom é a Revealed Records do Hardwell, Mixmash do Laidback Luke, Smash The House do Dimitri Vegas & Like Mike, e a Maxximize fundado pelo duo Blasterjaxx. Todas essas labels não só lançam Bigroom mas também como outros gêneros da EDM. O sub-gênero do House já foi considerado como “morto” mas ainda continua tendo presença em sets grandiosos, e não podemos negar que fez parte da história de muitas pessoas, que ainda toca no coração de muita gente.
Quando as pessoas falam que “EDM” morreu elas se referem ao Bigroom, Electro House e o Progressive House, por serem mais mainstream. Nunca entendemos por que disso, não sabemos se é porque a cena no Brasil era pequena ou se sempre tivemos como referência a cena de fora, onde para nós, fãs, estava sempre bem “vivo”. Vimos muitas pessoas falarem que o EDM tinha morrido e que era a vez de outras vertentes, o que é bom. Mas não é contraditório pedir Tomorrowland quando o “EDM” está morto? Difícil de entender.
Como admiradores do gênero durante anos e vendo que até hoje ainda há gente produzindo e tentando ter seu espaço na cena onde sabemos que não há nem uma ‘brechinha’ para outros gêneros, é triste. Pois na Holanda, os artistas de qualquer gênero sempre buscam a se ajudar, trabalhar juntos e crescer juntos e sempre foi algo que funcionou. Então o questionamento – “porque aqui é diferente e tem que ser diferente sempre”?
A cena brasileira infelizmente é muito fechada e limitada em relação a EDM em geral hoje em dia por uma dezena de motivos: Primeiramente a crise. Por mais que haja demanda de público, nem sempre há o suficiente para compensar o cachê de artistas internacionais, que são pagos em Euro ou Dólar. Nem todos os pequenos clubes/festivais aqui no Brasil conseguem compensar os custos de trazer um artista de grande porte mesmo com o evento lotado!
Alguns clubes e festivais grandes como a Laroc, Green Valley (que infelizmente foi parcialmente destruído esse ano por por um ciclone), Federal Music, XXXPerience e Lollapalooza Brasil costumam trazer grandes nomes internacionais, mas para eventos do porte deles os custos ficam um pouco menos pesados. Com a falta de influência constante de grandes artistas da EDM aqui no Brasil, sobrou muito espaço para outros estilos tomarem o lugar de destaque, e foi assim que os estilos Low BPM voltaram ao topo no fim de 2016.
Segundamente, a conveniência: É muito mais prático trazer artistas nacionais, tanto pelos custos quanto pela logística. Porém os atuais artistas nacionais de grande relevância são todos de estilos como Desande, Tech House, BR Bass e Techno, quase todos os grandes eventos tem a line cheia de artistas de mesmo estilo e muitas vezes repetindo os mesmos nomes em todas as edições dos eventos por meses (e até anos!)
E negociações: Desde de que a crise no Brasil se agravou, ficou inviável para alguns donos de Festivais e Clubes trazerem artistas internacionais, fazendo com que a única forma de não fecharem as portas seja trazendo artistas nacionais. Porém, esse ‘boom’ de crescimento de nomes nacionais também valorizou muito os seus cachês (por mais que o pagamento seja em Reais, ainda sim pesa no bolso da organização de eventos menores). Algumas agências e empresários brasileiros têm feito esforços para que artistas internacionais (com cachês mais em conta) não participem de eventos aqui com negociações e ofertas aos donos de eventos. No nível de só permitir que um artista nacional que seja a “sensação do momento” toque no seu evento se você contratar outros 3 ou 4 nomes bem menores que são gerenciados pelo mesmo empresário/agência, assim lotando sua line-up com nomes não necessariamente desejados por você e pelo público geral e inviabilizando a possibilidade de trazer aquele artista internacional que cobrou um preço mais em conta! (DRIIIFT)
Há uma pequena parcela de artistas nacionais com mais sucesso e com mais oportunidade e espaço fora do país com sua música. Temos como exemplo: DJ Marky, S.P.Y., Bruno Furlan, Zetta, Wav3motion, ANNA, Bruno Martini, Marcioz, Urbandawn. DRIIIFT, Dj e produtor brasileiro, recentemente lançou sua track chamada ‘Drop It’ na Mixmash, com também outro artista brasileiro, K1LO. Perguntamos sobre a história por trás da faixa e como tudo começou. Em detalhe eles nos conta:
Lançar em uma gravadora de referência mundial como a Mixmash é um sonho que eu tenho desde os meus 10 anos de idade e que só consegui realizar depois de quase uma década de tentativas, minha história com o Laidback Luke e com a Mixmash começou em novembro de 2018 e vem me rendendo frutos maravilhosos e inimagináveis para quem só tem 19 anos!
Tudo começou em 2015 quando o Luke começou a fazer vlogs no seu canal do youtube sobre a vida de artista que ele leva, mostrando a experiência dele em tour pelo mundo, eu como já era fã dele desde 2013 obviamente não perdia nenhum episódio dos vlogs… Os anos foram passando e ele começou a postar vlogs escutando demos de artistas menores (como um react) e escolhendo as favoritas para lançar na gravadora dele, a Mixmash. Em Outubro de 2018 ele anunciou que faria um desses vlogs em Novembro e pediu que os artistas interessados enviassem suas demos pelo site dele, pela primeira vez eu enviei logo duas minhas sem expectativa nenhuma de que eu fosse ouvido (ele recebia tantas que sorteava apenas umas 20 para ouvir no vídeo e ouvia as outras fora das câmeras). Acontece que no dia 16/11/2018 ele postou o vlog ouvindo as demos e eu não estava em casa, ainda não tinha tido tempo de assistir, mas comecei a receber um monte de mentions no twitter e mensagens de amigos no facebook dizendo que ele escutou uma das minhas demos!!! ENTREI EM CHOQUE com o feedback dele, ele curtiu tanto a demo que se referiu a mim como um artista “amazingly talented” (incrivelmente talentoso)! No dia seguinte, um “caça talentos” que tinha contato direto com o Laidback me procurou e pediu por novas demos pra mandar pra ele, caso o Luke curtisse alguma eu seria lançado na Mixmash.
Em abril de 2019 o Luke lançou uma nova versão do seu próprio hit ‘Rocking With The Best’ (Oh Yes) em colaboração com o Keanu Silva, e eu na época viciado na track decidi dar o meu próprio toque nela. Eu tava tão inspirado que no mesmo dia que a música foi lançada, em 4 horas, eu já tinha a minha própria versão dela pronta! Enviei ao “caça talentos” que AMOU ela e sem pensar duas vezes mostrou ao Laidback que também AMOU! Foi aí que meu nome começou a aparecer no exterior, essa track foi tocada pelo Luke e por outros DJs em festivais no mundo todo, incluindo o palco principal do Tomorrowland Bélgica, Creamfields no Reino Unido, Alfa Future People na Rússia, a lendária rádio Holandesa SLAM! FM entre dezenas de outros lugares! Até hoje ele continua tocando essa track nos seus sets, recentemente tocou ela na livestream do festival português RFM Somnii. Depois desse apoio IMENSO, o Luke pediu por mais e mais material meu, continuando interessado em lançar alguma música minha na sua gravadora, e foi aí que em Outubro de 2019 o K1LO me mandou um esboço de uma track, eu amei tanto a ideia, que em 6 horas a gente terminou e chamou de Drop It! Eu mandei pro Luke e ele curtiu a track, a equipe da gravadora dele também, então finalmente tínhamos conseguido lançar na Mixmash!
O acordo de lançamento da ‘Drop It’ foi assinado por mim e pelo K1LO em janeiro, com o lançamento agendado para maio. Foram 5 meses de muita ansiedade para nós hahaha porém, esse tempo todo de espera valeu a pena, a Drop It foi um sucesso! É a 8° track mais vendida da Mixmash no Beatport e conta com 160.000 streams no Spotify até agora, além disso, o Luke tocou ela no seu set na edição online do Tomorrowland, com menos de 20 anos de idade conseguimos lançar numa das maiores gravadoras de EDM do mundo e ainda tivemos nossa track tocada no Tomorrowland!
É importante lembrar o que isso significa: Eu e o K1LO, jovens produtores brasileiros de um estilo musical “underground” no país, sem nenhum manager, sem nenhuma agência e baixíssimo investimento feito por conta própria, conseguimos o suficiente pra conquistar um espaço de destaque internacional, junto aos extremamente profissionais DJs e produtores de EDM europeus. (DRIIIFT)
Os artistas do Bigroom são nada mais nada menos que Martin Garrix, Hardwell, Afrojack, W&W, Blasterjaxx, Dimitri Vegas & Like Mike, KSHMR, Quintino, Maddix, Saberz, MAKJ, David Guetta, DVBBS, Kevu, Steve Aoki e muitos outros. Acho que é inevitável você nunca ter curtido algum desses DJs já que o assunto é EDM. Enfim, o gênero também pode ser considerado como um dos mais odiados da cena, por ter levado produtores de outras vertentes a seguir nesse estilo, como o Tiesto por exemplo. Em uma entrevista da DJ Mag, Tiesto fala que se sentia irrelevante em ser conhecido como o “cara do trance” e queria estar mais conectado com o som atual, o som da nova geração. E também tivemos o Headhunterz deixando suas raízes do Hardstyle para produzir o tal. Pessoas tem um preconceito grande também pelo Bigroom House por parecer a mesma coisa sempre, a mesma fórmula; por não exigir “muita” habilidade e criatividade para produzir, mas não, exige sim habilidade; mercado com muitos ghost-producers, mas com a ausência dos produtores em tour muitos acabam optando pelos “produtores fantasmas”.
Ghost producers e Co-producers são muito comuns atualmente, grande parte dos artistas mais bem-sucedidos de todos os estilos usam esses serviços, muitos fãs veem ‘ghosts’ como algo “imoral” já que o artista está lançando um som que não foi ele que fez, eu como um Ghost Producer posso dizer que a verdade é muito diferente disso! Produzir uma track é algo maravilhoso, mas é um processo que muitas vezes pode ser cansativo e estressante, é muito comum produtores sofrerem de bloqueio criativo por exemplo. Então por que não só coordenar a criação e pagar alguém para de fato pôr a mão na massa por você? Nenhuma track feita por um ghost é lançada sem aprovação prévia do artista, o que significa que necessariamente esse artista teve sim envolvimento com a produção dela, mesmo que não em todas as etapas! Todos os estilos de música eletrônica tem demanda para ghost producers que não tem pretensão de serem artistas famosos, gostam apenas de ficar no estúdio e sustentam a família produzindo para DJs maiores que estão constantemente em tour, sem tempo o suficiente para estar no estúdio produzindo. Claro que essa realidade não exclui o fato de existirem farsas na cena, pessoas que não sabem produzir e nem tocar, mas tem toda uma equipe gigante por trás para fazer tudo funcionar como se ela/ele fosse realmente um artista.
A função de um co-produtor é similar a função do Ghost, porém o co-produtor não faz a maior parte da criação/produção como o Ghost faz, geralmente o co-produtor apenas finaliza uma track que foi iniciada pelo artista que aparece no título, as razões são as mesmas de um ghost: DJs grandes sem tempo no estúdio, artistas iniciantes que não tem conhecimento o suficiente para finalizar uma track no nível profissional e afins. (DRIIIFT)
Conhecemos muitas pessoas sonhadoras que já pensaram em começar, ou desistir ou insistir nos seus sonhos quando estamos falando de ser Dj, produzir e entrar para o mundo da música eletrônica. Artistas como Calazães, Cmax, Deck, Droidstep, Jack El West, Gustavo J, Kaneve, Overjack, SNTN, Ryker e Thayner estão a cada dia sonhando mais e trabalhando mais na cena brasileira para ter seu espaço e oportunidade na cena do país, espalhando seus diversos sons.
Aqui no Brasil existem muitos artistas de EDM absurdamente talentosos e que não tem a atenção merecida, mas a boa notícia é: com persistência e muito, muito, muito, muito, muito trabalho, todos podem conseguir os feitos que eu tenho alcançado! A nossa visibilidade e relevância para os contratantes de eventos será muito maior se nós tivermos mais nomes como eu e o K1LO assinando em gravadoras grandes e se apoiando constantemente como os artistas de EDM fazem mundo a fora. Dessa forma as referências nacionais não serão mais apenas de Desande, Techno e afins, mas também de EDM! Há espaço pra todos, e com muito esforço nós vamos conseguir o nosso de volta! (DRIIIFT)
Agradecimentos: K1LO e DRIIIFT.
Matéria por: Ianne Souza.
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