Não há exagero em denominar Daft Punk como o maior nome da história da música eletrônica. O duo francês tomou proporções que não podem ser descritas por palavras, alcançaram feitos que nenhum outro DJ foi capaz. Os robôs foram referência musical não só para outros DJs, mas para todo o mundo, porém, após 28 anos, esse sucesso chegou a um ponto final.
INÍCIO
Tudo começou quando Guy-Emanuel de Homem-Cristo e Thomas Bangalterse se conheceram enquanto estudavam em Paris, pouco tempo depois criaram uma banda chamada “Darlin”, juntamente com Laurent Brancowitz. Pouco tempo depois, após uma apresentação, uma revista local os chamou de “a bunch of daft punk”, dizendo que eles eram “tontos, ruins e um lixo”, o que fez com que Laurent Brancowitz abandonasse o trio e fosse para a banda Phoenix.
Thomas e Guy-Man utilizaram a crítica da revista para dar o nome ao seu novo projeto, criado em 1993, o Daft Punk, projeto que surgiu do fracasso a lenda da música eletrônica. Nessa época, houve uma grande explosão do French House o que fez com que os robôs surfassem nessa tendência e virassem referência no estilo, o qual faziam o uso de muito sintetizador.
Ainda em 1993, os robôs frequentaram uma rave na Euro Disney, nesta oportunidade tiveram contato com Stuart Macmilan, cofundador da Soma Quality Recordings, quando o entregaram uma demo, que posteriormente serviu de base para o single “The New Wave”. O single teve um lançamento limitado em 1994.
Ao retornar ao estúdio em 1995, Daft Punk lançou uma música que mudaria sua carreira, “Da Funk”, seu primeiro grande hit de sucesso. Em seguida o duo assinou com a Virgin Records, em 1996, onde conseguiram licença para suas tracks, para então lançar o seu primeiro álbum “Homework”, que incluiu os hits “Alive”, “Da Funk” e “Around The World”.
ÁLBUNS
O primeiro álbum de Thomas e Guy-Man revolucionou a música eletrônica na década de 90, com uma mistura de French House, House, Techno, Acid e Funk, ainda entrou na lista dos álbuns mais vendidos em mais de 30 países. As tracks “Da Funk” e “Around The World” alcançaram o primeiro lugar nas paradas musicais da Billboard Hot Dance Music.
Após o grande sucesso de “Homework”, Daft Punk nos presenteou com “Discovery”, álbum que traria um dos maiores, se não o maior, hit dos robôs, “One More Time”. O álbum foi iniciado em 1999, sendo lançado em 2001 pela Virgin Records com 14 faixas.
“Discovery” foi uma surpresa para os fãs, pois apresentava uma grande mudança de seu álbum anterior, que continha bastante influência do Detroit e Chicago House, apresentando mais aspectos dance, disco e “mais pop”, porém mantendo o toque de French House e todo o toque do Daft Punk.
O sucesso do álbum foi tão grande que alcançou a 2ª posição entre os álbuns mais vendidos no Reino Unido, e 44ª nos Estado Unidos, sem falar na primeira colocação na Billboard com as tracks “One More Time” e “Harder, Better, Faster, Stronger”.
O Terceiro álbum de Daft Punk, “Human After All”, tem um ponto peculiar, foi feito em apenas 6 semanas, tendo iniciado em setembro e finalizado em novembro de 2004, sendo lançado em março de 2005. Apesar do curto espaço de tempo, o álbum conta com faixas icônicas como “Technologic”, “Television Rules the Nation” e “Human After All”. Além de ser topo nas paradas globais assim como os álbuns anteriores, o álbum ganhou uma nova versão em 2006, o “Human After All: Remixes”.
Para a tristeza dos fãs, “Random Access Memories”, lançado em 2013, seria o último álbum de Thomas e Guy-Man, porém é um álbum que tomou proporções nunca antes vistas na música eletrônica.
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Ao rescindir com a EMI, Daft Punk assinou com a Columbia Records, onde teve um suporte muito grande de diversos artistas, dentre eles, podendo citar Pharrell Willians e Nile Rodgers, que ganharam mais destaque com os hits “Get Lucky” e “Lose Yourself To Dance”.
Além da ajuda dos fenômenos Pharrell e Nile, os franceses também contaram com grande ajuda de Giorgio Moroder, produtor italiano famoso pelo uso massivo de sintetizadores, posteriormente, Giorgio ganharia uma música no álbum em sua homenagem, “Giorgio By Moroder”. Para gravar ‘Giorgio’ eles usaram 3 microfones, um mais atual, outro intermediário e um mais antigo, onde cada microfone representaria um momento de sua vida.
A repercussão do álbum foi tão grande que Thomas e Guy-Man fizeram algo inédito, pela primeira vez na história um álbum eletrônico ganhou a categoria de “Álbum do Ano” no Grammy, além de vencer outras 3 categorias, incluindo “Single do Ano”, com “Get Lucky” .
O álbum ainda liderou o Billboard 200, além de liderar as paradas em diversos outros países. Foram 339.000 cópias vendidas apenas na primeira semana nos EUA e foi escolhido pela Rolling Stone como um “500 Maiores Álbuns de Todos os Tempos”.
Compilações e Outros Álbuns
Daft Punk ainda lançou diversos álbuns e compilações de sucesso, o que rendeu, para a dupla, indicações e premiações no Grammy. O primeiro lançamento foi o icônico “Alive 1997”, uma performance gravada em Birmingham, de 45 minutos, em 2001. No mesmo ano foi lançado o “DJ Mix”, uma compilação de 14 músicas lançadas pela Virgin Records.
Outro grande sucesso foi o “Daft Club”, lançado em 2003, que contava com remixes de suas faixas lançadas nos álbuns “Homework” e “Discovery”. Porém, foi apenas em 2007 que Daft Punk lançou um de seus álbuns mais importantes, o “Alive 2007”.
“Alive 2007” é um álbum gravado ao vivo, assim como o “Alive 1997”, porém desta vez o álbum foi gravado em Paris, o que proporcionou aos robôs o Grammy de Melhor Álbum de Eletrônica/Dance.
Por fim, em 2012, Daft Punk focou em um projeto diferente, foram produzidas 24 faixas para “Tron: Legacy”, em parceria com a Disney. Este foi o último álbum de Daft Punk antes de “Random Access Memories”, o que ainda rendeu uma indicação dos franceses ao Grammy de “Melhor Trilha Sonora para Mídia Visual”.
ALIVE
Sem sombras de dúvidas a turnê “Alive”, que ocorreu em 2006 e 2007, é a mais famosa dos robôs, e a cereja do bolo foi a apresentação no Coachella, onde os franceses inovaram sua performance com uma quantidade de LEDs nunca antes vista nos Estados Unidos.
Na época não era comum usar tanto LED, tiveram que pedir para todos os fornecedores de LED dos Estados Unidos para cobrir a estrutura da pirâmide em 3D. O set contou com uma mistura de seus 3 álbuns. O backstage foi esvaziado, permanecia apenas quem fosse essencial. Nunca tinham visto uma produção de LED como aquela.
A produção havia delimitado um espaço para até 10.000 pessoas assistirem ao set, porém o sucesso da dupla era tão grande que haviam 40.000 pessoas na apresentação. As pessoas começaram a mandar SMS umas para as outras com frases como “Você precisa vir aqui! Você não tem noção do que está acontecendo”.
CARREIRA
Talvez a maior virtude do Daft Punk não tenha sido seus prêmios e status alcançado, mas sim sua influência e revolução que fizeram na música. Thomas e Guy-Man não tinham medo ao inovar, o que fica em evidência em seu primeiro álbum ao juntar tantos estilos em um só título.
A influência de Daft Punk vai além da música eletrônica, o cantor The Weeknd, que possui duas músicas com a dupla, declarou: “esses caras são uma das razões pelas quais eu faço música, então não posso nem compará-los com outras pessoas. Sua marca e o quão seriamente eles levam sua arte e imagem e tudo mais – eles quase nem são reais”, e ainda que “Mas, falando sério, eles são muito estratégicos, são muito inteligentes e não se prendem a nada que acham que não é certo”.
Um dos grandes singles de Kayne West, “Stronger” conta com o sample de “Harder, Better, Faster, Stronger”. Além dessa música, Thomas trabalhou com Kayne em outras tracks em seu álbum “Yeezus”, que chegou ao topo da Billboard.
Inúmeros artistas admiravam o trabalho de Daft Punk, há quem diga que Madonna se juntou ao produtor francês Mirwais para adicionar um toque de Daft Punk ao seu álbum “Music”. Em entrevista, Madonna ainda havia dito que queria muito trabalhar com eles, e afirmou: “Só estou esperando eles retornarem minha ligação”.
Madonna não foi a única lenda da música a ser recusada por Daft Punk. O jornal “Useless Daily” afirmou que David Bowie pediu um remix de uma de suas músicas, educadamente, os franceses recusaram.
Em 2017 suas colaborações chegaram ao fim, The Weeknd foi o último artista a lançar um single com Daft Punk, após uma longa carreira de sucesso. Foram 13 indicações ao Grammy e 7 prêmios, 10 indicações ao Prêmio Billboard e duas vitórias.
O FIM DE UMA ERA
Sem motivos e sem explicações, Daft Punk anunciou sua despedida em 22 de fevereiro de 2021. A dupla publicou um vídeo chamado “Epilogue”, um trecho do seu filme “Electroma”, lançado em 2006. No vídeo, os robôs caminham pelo deserto e um deles explode, na sequência exibe-se sua data de criação (1993) e sua data de término (2021), e o robô remanescente até o pôr do sol.
O vídeo não traz muitas informações, não há qualquer pronunciamento da dupla, apenas de sua assessora, Kathryn Frazier, confirmando o fim do projeto, o que pegou o mundo de surpresa.
O término de Daft Punk é uma perda incalculável para a música eletrônica, porém não há tempo que consiga apagar tudo o que foi construído. Daft Punk interferiu na música durante 28 anos, apesar de todo conteúdo musical produzido, o maior ensinamento deixado pelos robôs é não ter medo de inovar.