Quando vemos o nome “Boiler Room” automaticamente já imaginamos um espaço aberto ou fechado, um DJ e pessoas ao redor da CDJ. Mas o que ninguém te conta é como surgiu esse grande movimento.
O Boiler Room é uma plataforma de transmissão de música online, comissionando e transmitindo sessões ao vivo em todo o mundo. Com sua sede em Londres, o Boiler Room já promoveu shows em cerca de 100 cidades do mundo, em grandes metrópoles tais como: São Paulo, Los Angeles, Londres, Amsterdã, Nova York, Berlim, Lisboa, Cidade do México, Cracóvia, Tóquio, Sydney, Lima e por aí vai. A marca atualmente produz cerca de 30 a 35 novos shows por mês.
O diferencial que o Boiler Room traz é a diversidade musical e cultural, fora a oportunidade para artistas não mainstream, sendo eles médios ou grandes ou do underground, de ter seu espaço de trabalho valorizado junto com uma incrível experiência, em uma transmissão na qual é vista pelo mundo todo. A empresa foi o primeiro serviço internacional de streaming de música underground ao vivo. Sua programação musical focava originalmente em música eletrônica, como garage, house, techno, mas se expandiu para incluir grime, reggaeton, gabber, hip hop, jazz, cumbia, dubstep, downtempo, R&B, música clássica e outros estilos musicais.
O conceito sempre foi “simples” e “básico”, sem visuais chamativos e uma estrutura grandiosa. O que representa mais para eles é a música, um DJ à luz do dia ou da noite, ou no escuro de um armazém, e muitos outros lugares por aí. Olhando de fora, trata-se muito de uma festa íntima, sem muita enrolação e apenas boa música.
A origem de tudo
Fundado em março de 2010, Blaise Bellville convidou o afiliado de Gilles Peterson, Thristian “Thris Tian” Richards (atualmente co-fundador do Boiler Room) e o fundador da NTS Radio, Femi Adeyemi, para gravar uma mixtape para sua revista online Platform. Isso coincidiu com a tentativa de Bellville de persuadir os investidores a converter um depósito em estúdios de arte. A primeira sessão do Boiler Room foi gravada usando uma webcam colada na parede de uma sala e a sessão foi transmitida ao vivo online no Ustream.
“Uma noite eu estava vagando pelo prédio e encontrei uma velha sala de caldeiras, aquilo era muito legal”, disse Blaise ao The Guardian em 2015. “Mudei minhas plataformas giratórias para lá, comprei um CDJ de merda [toca-discos] e o plano era gravar mixagens todas as semanas. Percebi que poderíamos gravar com uma câmera barata e transmiti-la ao vivo. Era como um ponto de encontro de adolescentes em um quarto”.
Então desenvolveu-se dali seu formato de filmagem: um DJ de frente para a câmera, um cenário completamente amador em uma sala onde o set-up do artista era a parte essencial da festa, e os participantes posicionados atrás dos decks de um modo que o DJ seja a figura principal vista.
Em seu primeiro ano Boiler Room apresentou várias performances principalmente de músicos eletrônicos e DJs, incluindo Theo Parrish, Jamie xx, SBTRKT, Hudson Mohawke, Jamie Woon, Mount Kimbie, Falty DL, James Blake e Ben UFO. As gravadoras de Londres Young Turks e Hessle Audio, bem como o coletivo de hip-hop Livin ‘Proof, organizaram takeovers no Boiler Room em 2010.
Trajetória
Boiler Room iniciou sua carreira internacional em agosto de 2011 com sua primeira parada na Alemanha com a apresentação de Michail Stangl, um curador musical e DJ russo. Pouco depois, foi expandida nos Estados Unidos. Bellville, Thristian e o resto da equipe decidiram que precisavam de um grande artista para ancorar a escalação e Diplo foi a aposta. Mas o show então underground não estava pronto para a música que um nome mainstream traria.
“Diplo tocou o set mais terrível de todos os tempos”, disse Bellville ao The Guardian. “Ele é um ótimo DJ, mas achava que estava em Vegas. Mas coisas como essa provocaram a reação online que nos ajudou a encontrar nossa voz. Isso permitiu que as pessoas se reunissem e pensassem: ‘Todos nós achamos que isso é uma merda’. Foi um ponto bom porque estávamos nos perguntando como crescer, e percebemos que ir mais comercial não era o caminho. Nossa fanbase gostava de música underground e nós também.
A equipe da Boiler Room percebeu que não era hora de entrar no mercado mainstream e, em vez disso, se concentrou e se baseou em cenas locais ao redor do mundo. O segredo era encontrar talentos escondidos à medida que o público online exigia mais música underground. Em um nível local, os DJs que tocam nos shows de Berlim têm a chance de ter fãs e seguidores para encher uma boate de um bom porte, palco de festival e quem sabe até um estádio. Eles sempre buscam inovar e surpreender, filmando DJs que tocam do abstract hip-hop em Los Angeles até o funk de favela de São Paulo. Em comum entre esses estilos musicais é quão distintos e inexplorados pelo mercado da música são, e passaram de inacessível até facilmente disponibilizados para vários nichos de público da música em geral, criando uma certa curiosidade, visibilidade ao artista e o despertar de um movimento. DJs começaram a perceber que tocar no Boiler Room é uma forma de expandir sua fan base em um set com duração de uma hora, e às vezes até menos ou mais.
Conforme os gêneros musicais foram se expandindo no catálogo, os shows também foram se tornando mais grandiosos. Em uma entrevista ao The Fader em 2016 Bellville fala sobre a transmissão em um anfiteatro romano no festival Dimensions com Caribou, Darkside e Nils Frahm em 2014 – “Foi além do que já havíamos alcançado. Nós conseguimos e foi incrível. Isso abriu uma porta para nós… Essencialmente foi pegar a mesma política e aplicá-la a algo que não tinha nada a ver com um set de DJ”.
Com o tempo, o lugar que antes era apenas uma sala e uma simples webcam cresceu em uma imensidão absurda de todas as formas, e até hoje é uma das plataformas mais procuradas pelo público e por artistas. Não só isso, como toda a experiência de tocar para um público global em uma atmosfera e estrutura completamente íntima, diferente e selecionada, só o Boiler Room pode proporcionar. E ainda ultrapassando barreiras, em 2017 a empresa em parceria a Google Pixel também já realizou o evento “VR Dancefloors: Techno in Berlin” que permitia os usuários se moverem pelo clube de Berlim, checassem casualmente as instalações de arte e até interagissem com seus arredores.
Para o Boiler Room o céu é o limite, e isso ficou claro com o anúncio do primeiro festival de música da companhia. Sempre fugindo do tradicional e inovando, a ideia principal do festival era fazer quatro dias com estilos diferentes: Jazz, Rap, Bass (dubstep, jungle, UK garage, dancehall) e club (house e techno), enriquecendo cultural a cena de Londres.
Conceito e representatividade
Seria díficil pararmos para pensar em criar um conceito básico para algo e acabar criando uma coisa tão extraordinária, onde várias partes se encaixam como o Boiler Room. Como por exemplo a educação e liberdade musical que leva para o artistas e público; a influência cultural de mostrar a linguagem corporal de diferente pessoas ao redor do mundo; a importância da exposição da presença do público para quem está de fora e até quem está presente, isso instiga as pessoas; os sets incríveis e ascensão de novos artistas; onde a simplicidade e objetividade nos faz perceber em como há uma cultura de consumo de música em seu estado cru, para apreciação e admiração; a representatividade LGBTQI+ explícita e muito bem acolhida na cena underground trazendo artistas e dando espaço ao público que integra o movimento; a representatividade negra muito presente em vários sets, com DJs trazendo o afro house, rap/hip-hop e dentre outras vertentes e novamente, dando espaço ao artista e ao seu público; eventos proporcionados em lugares deslumbrantes e exóticos. O conceito é sem palavras!
Boiler Room já esteve no Brasil e foi um grande sucesso. A primeira edição foi com o DJ Zegon, Gui Boratto, Ney Faustini, e Nomumbah em 2013, e nos anos seguintes tivemos grandes nomes nacionais como DJ Marky, Djonga, L_cio, Rincon Sapiência, Linn da Quebrada, Mamba Negra (coletivo underground paulista) e muito mais. Uma grande diversidade musical. Também já tivemos sucessos nacionais na gringa como por exemplo, Cashu, Gop Tun Djs (coletivo underground paulista) e a BADSISTA, levando seu set super eclético e surpreendente lá fora. Assista abaixo:
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Referências bibliográficas: The Guardian, The Fader, Boiler Room e Wikipédia.