Do Deep House à ascensão do Techno, passando pelas transformações tecnológicas e a saturação do mercado
Se você é fruto de meados dos anos 90 e desde cedo carrega a carteirinha de clubber, com certeza irá lembrar dos momentos de glória do Deep House no Brasil. Ali, entre 2010 e 2012, ainda sob influência das pérolas musicais dos anos 00, quanto mais pulsante e enérgica fosse uma pista, melhor. Porém, aos poucos, isso foi mudando. Com o avanço da tecnologia, a forma de se produzir música também foi se transformando, e as melodias orgânicas e fluidas foram dando lugar a elementos cada vez mais sintéticos. Assim, o Techno foi ganhando seu espaço, predominando até hoje nos lançamentos da cena eletrônica nacional.
E por falar em lançamentos, também é preciso dizer que nunca se produziu música eletrônica em tamanho volume como atualmente. Isso também se dá pela modernização do processo de produção musical. Se antes era preciso pilhas de equipamentos, experiência e muita habilidade técnica para criar um som de qualidade, hoje, com um bom software e algumas semanas de estudo pela internet, já é possível ensaiar os primeiros passos nesse caminho. Esse fato, como já se pode imaginar, também transformou o mercado fonográfico, que se encontra cada dia mais saturado e concorrido.
Quem hoje comenta a respeito dessas e outras mudanças que impactaram a cena eletrônica nos últimos 10 anos, é alguém que vivenciou de perto cada uma delas. Rodrigo Fiorillo carrega uma década de experiência como DJ e compartilha conosco agora alguns insights importantes sobre esse universo.
Rodrigo Fiorillo
“A música é algo cíclico e até pouco tempo só tinha visto esse fenômeno acontecendo no passado, mas durante a caminhada que venho percorrendo na música pude vivenciar isso. O Psytrance e o Electro House nos anos 2000 foram meus primeiros contatos com a música eletrônica, que eu escutava ou na rádio (os electro) ou no youtube (os psy). Em 2012 pude me apaixonar verdadeiramente pela música eletrônica quando conheci o Deep House com Jamie Jones, Adana Twins, Gui Boratto e outros.
O Deep House virou uma grande potência, do qual me abriu muitas portas, acho que a galera precisava daquela sonoridade para trazer um outro lado da música eletrônica, um lado mais lento, melódico e com vocais marcantes. O Warung naquela época trazia todos os nomes possíveis do gênero e proporcionava noites que marcaram o público.
Assim como o Deep, o Tech House veio forte logo em seguida em 2014 e trouxe um ritmo altamente dançante para diversificar um pouco e fornecer ao público outra alternativa e experiência. Como o Techno nunca deixou de existir, se formou uma tríade de tribos diferentes e parecidas ao mesmo tempo. Outro gênero que vejo flertar cada vez mais é o Techno e Psy Trance. Vemos artistas grandes trazendo em seus sets essa mistura da qual gera uma energia gigantesca na pista e se combinam de uma maneira incrível. Acredito que ainda vá longe.
Vemos que ao longo do tempo a música vem se adaptando, se modificando, resgatando coisas do passado e misturando os estilos entre si, isso faz da música possibilidades infinitas mesmo dentro de gêneros tão específicos. Recentemente vemos a ascensão do Melodic Techno e a minha visão de como esse estilo foi e está ainda se desenvolvendo, é que ele traz muito da essência do Deep House de 2012 com os vocais e melodias, flertando com as batidas, baixos e rumbles do Techno mais fechados, que dão espaço para os vocais e sintetizadores brilharem com harmonias e melodias marcantes que nos levam a um transe que penetra dentro da alma, proporcionando uma experiência que só foi alcançada por essas misturas.
Mal posso esperar para ver as novas possibilidades que o futuro prepara para nós com essas transformações“.
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