Por que a cena dos festivais brasileiros começou a crescer?

Saiu ontem pelo Beatport uma matéria no qual explica o porque dos festivais brasileiros estarem crescendo tanto. O que é facilmente explicado se levarmos em consideração as peculiaridades do povo brasileiro, seu estilo festivo, e as próprias características do país que propiciam comemorações! Veja abaixo a matéria:

“Poucos países no mundo tem o conceito de celebração em sua identidade nacional, como o Brasil. Aqui, as festas assumem muitas formas: os quatro dias com muita gente na rua – Carnaval, os jogos de futebol da equipe nacional que transformam dias normais em feriados, e festividades religiosas e populares da cultura que facilmente levam centenas de milhares de brasileiros em todo o país. No verão de 2016, as Olimpíadas irão “esquentar” ainda mais esse clima festivo, trazendo pessoas de todo o mundo para o Rio de Janeiro.

A verdade é que os brasileiros não precisam de muitas desculpas para uma festa. Festejar está profundamente enraizado na personalidade cultural brasileira. Assim, é uma conclusão lógica de que o Brasil tem uma cena de festival de música que tem (e muita) capacidade de crescer. A cultura dos festivais de música no Brasil é relativamente nova, mas com as expansões locais e com a vinda de festivais internacionais, a cena e a emoção do brasileiro, está crescendo.

Não foi logo após o fim da ditadura militar no Brasil, que durou de 1964-85, que o país estava pronto para o desenvolvimento dos festivais. Os festivais de música em particular desempenharam um papel importante na circulação de ideias liberais durante a década de 1960 e 70, embora estes eventos muitas vezes tenham terminado em violência nas mãos dos militares, que temiam que reuniões em massa de jovens brasileiros poderiam significar a propagação de idéias perigosas. O primeiro festival de música brasileira em larga escala ocorreu no ano em que os militares desistiram de seu poder. O show foi o Rock In Rio, e lá foi dado as boas-vindas à mais de 1,5 milhões de fãs ao longo de dez dias em janeiro de 1985. Com protagonistas internacionais incluindo ACDC, Rod Stewart, o evento abriu as portas do Brasil para o resto do mundo da música e criou para a indústria local um novo nível de profissionalismo.

Durante a década de 90, a população brasileira ficou com sede por tudo o que poderia oferecer cultura urbana contemporânea em todo o mundo. A estabilização do sistema monetário, no meio da década permitiu um maior intercâmbio de idéias e estilos com marcas e artistas internacionais e também gerou um importante aumento no poder de compra da população em geral. A virada do século viu o surgimento de diversos festivais novos apresentando estilos brasileiros de música. Tanto grandes rótulos, quanto a cena de música independente começaram a produzir música eletrônica nas maiores cidades brasileiras. Estas músicas e suas correspondentes raves, foram bem recebidas. Gradualmente, a cultura dos festivais de música se espalhou por toda a sociedade.

São Paulo, a maior cidade da América do Sul, sediou o festival Skol Beats por quase uma década. Este espetáculo hospedou mais de 55.000 participantes e foi o precursor para outros festivais em grande escala em todo o país. Suas nove edições demonstraram as dificuldades logísticas enfrentadas pelos grandes eventos que ocorrem em um caótico distrito urbano. O festival terminou em 2008.

Kaballah

Kaballah

Alguns destes novos festivais começaram como pequenos encontros de fãs do psytrance — um gênero popular no Brasil na década de 90 — e então cresceram e desta forma se tornaram alguns dos maiores festivais conhecidos nacionalmente. Tribe, XXXPerience e Kaballah são emblemáticos deste movimento e agora são todos realizados dentro de 60 milhas de São Paulo. Tais festivais têm trabalhado em uma expansão para incluir mais gêneros no seu lineup, e em 2015, XXXPerience e Kaballah trouxeram grandes ícones da EDM, incluindo Armin Van Buuren e Fedde Le Grand, além de outros também reconhecidos, incluindo Mathew Jonson, Rodhad e Danny Daze e brasileiros como Volkoder, Alok e Victor Ruiz – artistas underground. Ocorrendo a cada 2 anos, “Tribe” irá voltar em 2016.

No sul do Brasil, a Tribaltech teve uma trajetória semelhante a destes festivais citados. Originalmente uma rave pequena, e só nos últimos 12 anos que o festival se tornou um dos mais respeitados do país. Realizado em Curitiba em outubro passado, Tribaltech 2015 expandiu-se para dois dias e trouxe artistas como Carl Craig, Dubfire, Roman Flugel e Chris Liebing. Recentemente nomeada uma das 13 cidades emergentes mais quentes do mundo para a música eletrônica, Curitiba também abriga o Warung Day Festival.

Além de São Paulo e o sul do Brasil, outras regiões do país oferecem opções de festivais sólidos. No Rio de Janeiro, o Rio Music Carnival é uma maratona de cinco dias, completamente focada na música eletrônica. A festa ocorre no porto Marina da Glória e traz artistas de vários estilos. O evento de fevereiro de 2016 vai trazer estrelas internacionais incluindo Hardwell e Axwell, bem como o fenômeno brasileiro Vintage Culture. Enquanto a cidade maravilhosa é famosa por suas atrações turísticas durante o dia, o fascínio da vida noturna do Rio é forte e supra as expectativas de um amante da e-music.

A capital do país, Brasília, foi um dos redutos do rock brasileiro na década de 1980. Durante o início dos anos 90, também tornou-se uma das cidades pioneiras das festas eletrônicas. Hoje, o Federal Music é o maior festival local, e a próxima edição ocorrerá dia 31 de Janeiro. As edições passadas trouxeram Nicky Romero, Dimitri Vegas & Like Mike, Kolombo, Romeu Blanco e Sonny Fodera.

No nordeste, o grande nome é o Universo Paralello. Realizado desde 2000, o festival começou como um “festival de ano novo”, e acontecia na Chapada dos Veadeiros, uma reserva ecológica na savana Oriental Central. Em 2003, o Universo Paralello mudou-se para o deslumbrante litoral baiano, perto do local onde os primeiros colonizadores portugueses chegaram em 1500. “UP”, como carinhosamente chamam os fãs da festa, é uma das maiores celebrações de cultura alternativa do país. O festival de uma semana traz um número considerável de pessoas e é ao ar livre onde o público se “hospeda” em acampamentos, na praia. (A virada do ano ocorre entre esses sete dias). A próxima edição do “UP” ocorre em 27 de Dezembro-4 Janeiro. O público precisará tomar um vôo para Salvador ou Ilhéus e viajar de carro ou ônibus para as praias de Pratigi.

UP

Universo Paralello

A história dos eventos internacionais no Brasil é mais recentemente. Em 2015, tanto a Tomorrowland quanto o EDC chegaram ao país. O primeiro festival foi um enorme sucesso, embora este último sofreu o impacto de uma recessão que tem afetado a economia brasileira desde meados de 2015. Sonar, retornou em novembro, após uma frustrante edição em 2012 e um cancelamento inesperado em 2013. Ultra, um festival que “dormiu” no Brasil desde sua última edição em 2011 em São Paulo, retorna ao país em outubro de 2016. Depois de muitas tentativas em cidades como Curitiba, Belo Horizante, e Rio de Janeiro, o Creamfields encontrou sua casa em Florianópolis. Embora geralmente realizado em Janeiro, a edição de 2016 foi adiada indefinidamente.

Enquanto o mercado está desenvolvendo um gosto pela EDM no estilo americano, nos fica evidente que trazer um show internacional para o Brasil é complexo e caro. Mauricio Soares, vice-presidente de Marketing de vendas para IDT, explica alguns dos desafios: “o equipamento que usamos é quase inteiramente importado, e a taxa de câmbio tem um grande impacto na compra e a manutenção. Isto reflete diretamente sobre os custos de aluguéis. Além disso, há questões relacionadas com a qualificação dos funcionários, disponibilidade de máquinas necessárias e além disso, um sistema fiscal que é extremamente burocrático e complexo.”

Em meio aos altos e baixos de uma economia instável, junto de desafios da cultura tradicional e a mistura com marcas mundiais, o cenário de festivais no brasil tenta subir. “Estes festivais têm como tendência crescer e diversificar a médio e longo prazo”, diz Soares. “A crise macroeconômica trava o processo, mas a pausa momentânea faz parte do amadurecimento do setor e vai obrigar a muitas pessoas a sair de seu piloto automático, e isso é ótimo!

O fator decisivo da cultura de festivais no Brasil é a mesma que torna o país tão especial. Jeje, um dos organizadores do Tribaltech, sintetiza os sentimentos de muitos brasileiros: “há uma energia aqui que é diferente. Temos uma atmosfera única em desenvolvimento como a cena amadurece e pessoas descobrem novas facetas. Além disso, como qualquer boa nação sul-americana, tudo aqui é um pouco mais sexy.”

Via: Beatport

 

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