Com carreira estável e crescendo lá fora, DJ Glen quer conquistar novos espaços

Conversamos com o DJ e produtor sobre as projeções para alçar voos e alcançar novos públicos

por Isabela Junqueira

São 22 anos de carreira que se refletem em suas mais diversas áreas de atuação. DJ Glen ressignificou o Tech House em âmbito nacional, por meio de técnica e de precisão, agregando ao seu caminho um pavimento consistente que oportuniza alçar voos mais altos.

No Brasil, é tranquilo dizer que dá para contar nos dedos as festas e festivais do gênero que Glen não tenha tocado — alguém arrisca dizer alguma? A presença entre as principais gravadoras também é constante. Todos esses aspectos escancaram a consolidada trajetória de Glen, que, sem dúvidas, é um dos grandes nomes atuais da música eletrônica nacional.

Conversamos com ele — poucos dias depois de seu aniversário, que foi dia 12 de janeiro — para entender quais as projeções futuras, diante de um cenário tão repleto de oportunidades e portas abertas, construído por ele ao longo das mais de duas décadas de carreira. Bora ao papo?!

Olá Glen! Estamos nos primeiros dias de 2022, então, para começarmos, quais ensinamentos você extraiu desses anos que nunca mais esquecerá?

Realmente são muitos anos de aprendizado e com certeza aprendi muitas coisas que eu não deveria esquecer, mas para pontuar uma delas, talvez a mais importante: aproveite o momento, pois o que vale é o caminho e não onde você vai chegar.

Como disse acima, são duas décadas e nenhuma situação de reclusão semelhante. O que você fez diante desse cenário que, agora, olhando pra trás, te deixa orgulhoso?

Neste momento estou beirando o filme “Pesadelo da Covid, parte III” onde o loop do ano de 2020 é iminente, tudo fechando mais uma vez, pessoas ficando doentes, discussões políticas descabidas, crise financeira no meu setor, enfim…

Apesar da tempestade, é bastante claro meu orgulho de ter conseguido criar uma belíssima família. Penso muito a respeito. A família é o que faz o mundo todo fazer sentido, a continuação da vida, o “payback” do mundo capitalista, o amor e seu caráter revolucionário.

Quando a pandemia bateu forte, senti o peito cheio pela escolha que fiz, curti muito este momento apesar de ter quase ido a falência, acabei dando um jeito de sobreviver (ainda da música) e me senti muito forte por isso.

Foi também diante da pandemia que você entregou seu primeiro álbum de estúdio. De lá pra cá, o que mudou e quais passos você sente que é a hora de dar?

Acreditei no simbolismo que o álbum era o fim de um ciclo e começo de outro. Muito interessante foi que, logo depois que lancei o álbum, quase acabei morrendo de covid com dengue, algo terrível, levei meses pra entender que tinha ganho uma segunda chance e absorvi isso na minha vida, acho que continuo absorvendo.

Eu fui fundo e resetei minha vida artística. Demoli o estúdio logo depois que melhorei, pois lá tinha ficado quarentenado por 30 dias, comprei outro computador e comecei tudo do zero. O projeto do novo estúdio está a caminho e será cheio de janelas e vista, luz e inspiração, algo completamente diferente da caverna do lado da garagem que era antes.

Ainda não sei quais passos vou dar e a hora certa pra isso, mas os sinais virão e estou atento a eles. Alguns sinais já estão gritantes na verdade.

Sua carreira no Brasil é beeem frutífera. Todo esse cenário é o que te dá a segurança para explorar terras estrangeiras?

Minha relação com os países é um tanto complexa. Primeiro que acho que esse lance de nacionalismo uma baita besteira, considero todos como cidadãos do mundo, cada um com sua cultura e grandiosidade. Talvez por minha família ser em sua maioria européia, isso tenha me direcionado a considerar um padrão internacional em tudo, minha admiração musical nunca fora os djs locais e o desafio, a partir de um certo momento da carreira, era me tornar um dj internacional.

Quando finalmente consegui sair do país e tocar em locais onde as pessoas gostavam do mesmo estilo de festa que eu, notei que não fazia sentido participar daquilo, ou que eu não teria muito o que acrescentar à cena deles, logo concluí que existia uma grande oportunidade em trazer aquela qualidade para os eventos aqui no Brasil.

Paralelamente ao trabalho de dj, sempre produzi os eventos tentando criar o ambiente mais favorável para estes estilos que eu gosto, não acredito que o problema das pessoas não curtirem sons internacionais aqui seja culpa das pessoas e sim dos eventos e clubs mal projetados (há exceções).

O próximo passo que dei foi aceitar participar de um casting de agência mainstream nacional, onde o desafio então seria fazer o som no padrão internacional, mas que conversasse com as pistas brasileiras e neste ponto estive até agora, quando estou reconsiderando tudo na vida e pensando no próximo passo, talvez este aprendizado aqui no Brasil possa ser usado em outros lugares, como podemos ver nas produções minhas sendo tocadas incansavelmente por anos por muitos djs icônicos e também desconhecidos pelo mundo. Este é um sinalzão!

Quais eventos e acontecimentos te marcaram especialmente e, até mesmo, te ajudaram a crescer artisticamente para voar dessa forma?

Vish, a lista aí é grande… Vou puxar uma ocasião que me abriu muito a cabeça uns anos atrás.

Estava eu indo tocar em uma gig dos sonhos na Flórida, EUA, mais especificamente no Dirtybird Campout 2018. Alguns dos nomes que mais considero estavam no line up, como por exemplo Marshall Jefferson, o cara que deu o nome House, ao House. Em um momento pista, um grupo de amigos de Chicago veio falar comigo e disse que eram fãs do house do Brasil e um outro grupo de Miami falar que eram fãs de Brazilian Bass, estilo que eu considerava tosco justamente por copiar o nome do Miami Bass.

Me lembro que voltei com estas informações rodeando a minha cabeça, pois eu estava lá, tocando nos EUA justamente porque eu era brasileiro e resistia em apoiar o movimento que criava um som brasileiro inspirado nos gringos. Simplesmente deu um nó na minha cabeça pois eu não fazia Brazilian Bass conscientemente, mas era. Logo concluí que eu conseguia traduzir o som que rolava por aqui para uma linguagem musical internacional, identifiquei como isso foi possível e já na semana seguinte comecei a colaborar com produções de Brazilian Bass do mainstream.

Lembro que meu pensamento foi: talvez com o que aprendi tentando ser gringo eu possa ajudar aqueles que sempre quiseram ser brasileiros — e assim eu possa ser um brasileiro respeitado no mundo todo.

E quais outras experiências em pistas gringas você coleciona? Quais você ainda gostaria de embalar?

Por ordem de emoção: Space Miami, Burning Man, Golden Gate Berlim (neste dia o dono do club me disse que um dos Daft Punk estava na pista, quase desmaiei), Dirtybird Campout Califórnia (talvez a melhor gig internacional da vida), Dirtybird Campout Flórida, Bpm Festival Mexico, LaBulle Paris, Capitvlo Algarve, Studio 338 Londres, Off Sonar Barcelona, Discotech Boat Cayman Islands, Opium Rooms Dublin, Ritterbutze Berlim, Brigit Und Beer Festival Berlim, Liverpool (esqueci o nome do club mas era do lado do Cavern Club dos Beatles!), Techyes Miami.

As pistas que sonho em tocar ainda são muitas, mas quando pensei em alguma para dar exemplo deu um branco, neste branco apareceram os festivais norte americanos e europeus que eu vi vídeos de outros artistas tocando minhas músicas. É isso, quero ir para onde meus sons já chegaram, só falta eu… [risos].

De vez em quando também bate uma vontade de começar tudo de novo e criar um projeto de música com toda minha família, minha esposa também é DJ e é a melhor e mais maravilhosa do mundo (espero que ela esteja lendo isso), meus filhos simplesmente amam música e viagem desde que nasceram, por enquanto são muito novos ainda (4 e 2), mas talvez esse seja um grande sonho para o futuro.

DJ Glen e sua esposa, Nana Torres – Imagem via: Beats n’ Lights

Para encerrarmos, rola um spoilerzinho para 2022? Novos trabalhos, collabs, remixes, gigs? O que vem por aí?

Estou vendo meus sons se adaptarem muito bem em Big Rooms norte-americanos, minha primeira collab do ano sai no fim do mês com Destructo, de Los Angeles, um cara que é gigante lá, mas pouca gente conhece aqui. Ele fez o test drive do meu álbum quase inteiro e me convidou pra trabalhar junto na retomada. Tenho mais várias collabs prontas com americanos que sou fã, com brasileiros que sou fã, europeus que sou fã… a única questão é: quando e se realmente serão lançadas [risos] É a vida!

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