Em entrevista exclusiva, Nicky Romero fala sobre o Brasil, música e seus novos projetos

Seu nome verdadeiro é Nick Rotteveel e ele nasceu no dia 06 de janeiro de 1989 em uma pequena cidade chamada Amerongen, na Holanda.  À medida que Nicky trabalhava para aperfeiçoar seu próprio som exclusivo – uma mistura sedutora de progressive house tingida com electro e acid – 2010 testemunhou o lançamento de seu bootleg não-oficial com base no grande sucesso de David Guetta ‘When Love Takes Over’ no mundo digital; uma cartada que moldaria toda a sua carreira.  O sucesso viral da faixa despertou o interesse do próprio Guetta e, naquele momento, Romero encontrou seu mentor e herói.

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É claro que Nicky Romero não chegaria onde chegou se não tivesse também uma força a ser temida fora do estúdio.  Como um artista nato desde o princípio, sua tenacidade por trás dos decks e sua habilidade natural de ler e trabalhar públicos de qualquer tamanho permitiu que ele eletrizasse alguns dos festivais mais reverenciados do planeta.

Aproveitando essas homenagens em 2016, enquanto simultaneamente promove a marca Protocol e sua carreira solo, Nicky Romero continua deixando sua marca indelével na indústria musical; uma marca que é cada vez mais sentida nos corações dos seus dedicados fãs. Sempre e incansavelmente seguindo em frente, com o vento nos pés, Nicky está agora olhando para o próximo capítulo de sua vida, grandes planos no horizonte para todas as facetas da marca Protocol. Confira abaixo nosso bate papo com o holandês!

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WiR: Qual foi a sua reação ao perceber que os seus projetos estavam sendo reconhecidos por pessoas do mundo inteiro, inclusive por grandes artistas da música eletrônica?

Nicky Romero: “Uau, essa é uma boa pergunta! Eu acho que um dos primeiros momentos em que eu percebi que isso poderia ser algo maior que apenas um hobby foi a minha música chamada “My Friend”, que foi reproduzida na cerimônia de abertura do “Sensation”, o evento. Frede Le Grand também tocava essa música, assim como alguns outros artistas, e eu pensei: “Ok, isso é ótimo!”. Freddie sempre foi uma inspiração para mim, e eu apreciava muito o seu trabalho, e isso foi em 2010. E rapidamente após esse período eu produzi um remix para “Green Velvet – Flash”, e todos os djs tocaram essa música, como Axwell, Carl Cox, Guetta, Tiesto, Armin, literalmente todos eles reproduziram essa track e eu comecei a receber e-mails destes artistas de todo o mundo perguntando como eu havia feito o remix dessa música e eu percebi: “Ok, talvez eu deva sair do meu trabalho e me dedicar apenas à música!”. Antes eu trabalhava na televisão, no cenário da música porém na parte técnica, ou seja, por trás das câmeras e não à frente delas.”

WiR: O cenário da música eletrônica cresceu muito nos últimos anos. Como você imagina este cenário no futuro?

Nicky Romero: “Sabe, eu acho que a música eletrônica sempre foi uma espécie de montanha-russa, com altos e baixos. Gosto de comparar isso com a maré dos oceanos, ou seja, de acordo com a lua, ela aumenta ou diminui. Isso não quer dizer que a música eletrônica desaparecerá um dia, porém ela muda constantemente, o que é bom para todo mundo, caso contrário tudo seria muito chato se as pessoas tocassem sempre as mesmas músicas e os mesmos estilos o tempo todo. Inicialmente isso permite um trabalho de renovação para os artistas. O interesse das pessoas pela música não muda. Na minha opinião, as pessoas que frequentam festivais hoje, em dois anos, irão para outros tipos de festivais, ou mudarão completamente o estilo de vida, serão pais, ou estarão muito atarefadas, mas ao mesmo tempo, uma nova geração de pessoas cresce e começa a frequentar estes festivais. É um ciclo que não termina.”

WiR: Como você se sente tocando no Brasil? Você gosta da energia do público?

Nicky Romero: “Bem, me sinto muito sortudo até hoje pois o Brasil gosta muito das minhas músicas. Se olhar no Spotify, o número de fãs brasileiros é enorme, e isso me deixa extremamente feliz, e me passa a mensagem de que estou no caminho certo. Eu preciso dizer que a América do Sul no geral é um ótimo público para a música eletrônica. Sou grato por estar aqui novamente, participando da Tomorrowland na sua segunda edição, em vários shows pelo país, inclusive em palcos bem pequenos nas primeiras vezes em que estive por aqui.”

WiR: Você poderia nos contar algo sobre os seus projetos futuros?

Nicky Romero: “Eu estava planejando criar um novo álbum, mas estou percebendo que muitos artistas estão seguindo a mesma linha que eu sigo em minhas criações, e que seus álbuns não foram tão prósperos como deveriam ser. Isso não significa que não são projetos bons, não estou aqui para julgar nenhum tipo de música, mas talvez montar um álbum não seja a melhor estratégia no momento para este estilo de música. Isso me fala que a música está ficando cada vez mais “descartável”, ou seja, a vida útil de uma track é muito curta. Normalmente, uma música demora em média três ou quatro meses até ser considerada antiga, e hoje e prazo é de apenas um dia. E além disso, muitos artistas lançam álbuns com duas ou três músicas muito bem produzidas, e o restante apenas para preencher o conteúdo, e eu não consigo fazer isso. Por isso prefiro lançar as minhas tracks aos poucos e perceber a reação do público, e pular esta etapa do álbum por enquanto. Isso me permite fazer alterações e cria certa liberdade no processo criativo, enquanto no álbum o conteúdo permanece imutável e engessado.”

WiR: Qual seria o seu conselho para alguém que está começando esta carreira de dj? 

Nicky Romero: “Hoje em dia todos são djs, mas nem todos são artistas e produtores. Novamente, não estou julgando ninguém pois existe espaço para todos, mas acredito que as pessoas precisam perceber a diferença entre djs e artistas. Na minha opinião, eu não me considero um dj, eu prefiro ser considerado um produtor, pois não produzo apenas para mim, mas para muitas outras pessoas, eu toco instrumentos, eu escrevo, cuido da Protocol, cuido dos negócios das minhas empresas, então não é ser apenas um dj, porque hoje todos montam playlists, tocam em festas, se preocupam com as aparências, vestem roupas caras, arrumam o cabelo de um jeito diferente, e isso não sou eu. Eu realmente comecei tudo isso porque eu tinha um sonho de criar músicas, e não para ser parte de um grupo que busca status, fama e popularidade. Isso tudo é resultado de um bom trabalho, mas não é o propósito para iniciar uma carreira na música, e isso eu faço questão de deixar bem claro. Na minha opinião seria muito saudável para o nosso mundo da música eletrônica se as pessoas ingressassem, com paixão, nessa carreira para fazer música de verdade e não para ganhar dinheiro, porque isso pode destruir tudo o que muitos artistas estão construindo ao longo destes anos. Por exemplo, Michael Jackson não começou a cantar porque ele queria ser famoso, mas porque queria fazer o que amava, que era cantar, e isso tornou-o conhecido mundialmente, e isso serve para o Elvis, e todos os outros grandes artistas que deixaram o seu legado para o mundo. Então enxergando o lado positivo disso tudo, existe sim espaço para todos os tipos de pessoas, e todos os tipos de interesses, mas esta linha entre djs e artistas precisa existir.”

WiR: Como foi a experiência de tocar em um B2B com Guetta e AfroJack na Tomorrowland?

Nicky Romero: “Isso foi muito divertido! Eu lembro daquele momento em que nós dissemos um para o outro: “Nós temos que nos preparar!”, um milhão de vezes, e nós não nos preparamos nenhuma vez, pois não havia tempo e era impossível reunir os três no estúdio para planejar algo para a Tomorrowland. Estávamos no meio do verão Europeu e estávamos todos espalhados pelo mundo, e até o Skype era impossível por conta do fuso-horário. Então a preparação não aconteceu e isso resultou em momentos hilários, como por exemplo músicas à capela tocadas junto com outras músicas em notas completamente erradas, mas mesmo assim, foi uma satisfação enorme estar ali mesmo despreparados, entretendo milhares de pessoas e agregando diferentes estilos musicais em apenas um set. Eu acho que foi muito engraçado, e as pessoas adoraram a ideia de algo que lembrasse o Swedish House Mafia. Eu não estou me comparando a eles de maneira nenhuma, eu acredito que eles foram o melhor trio que nós já tivemos, mas a energia ali foi algo que me lembrou muito esse cenário.”

 

 

Entrevista: Felipe Capel; Juliana Garcia

Suporte: Yohan Augusto; Tatiane Batassa; Isac Moura

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