Uma artista com presença — em vários sentidos, seja no palco, no estúdio ou mesmo no mundo digital — criativa, determinada e muito consciente sobre tudo o que cerca o universo da música eletrônica. Essas são algumas das várias características que poderíamos usar para descrever Ella De Vuono, artista que já vem pavimentando sua estrada há um bom tempo, inclusive foi ganhadora do BURN Residency Brasil 2019 e foi a 1ª mulher residente em uma das mais famosas e conceituadas festas da cena paulistana, a Carlos Capslock.
Mais recentemente, a partir de 2020, começou a se aventurar no mundo da produção musical e deste então acumula alguns trabalhos bem interessantes, sempre com uma energia e uma mensagem especial por trás de cada track. Inclusive, seu último trabalho é um daqueles que eleva nosso espírito clubber! “É sobre isso” que se trata o novo lançamento de Ella De Vuono, “Kicking On The Floor’, lançada pela sua própria Diversall Musi, faixa que traz ainda vocais de Thais Uemura e remix de Pedräda.
Aproveitamos esse novo lançamento para trocar algumas figurinhas com “ella”:
WiR: Me conta um pouco sobre esta ideia de transformar uma faixa em algo novo meia década depois. Como você se relaciona com a “Kicking on the Floor”?
Ella De Vuono: A “Kicking” foi feita em uma época que eu não tinha estrutura para produzir, então ela aconteceu em um outro estúdio com coprodução, mas acabou que eu nunca gostei do resultado, o que eu mais gostava dela era o vocal, cuja letra e a melodia foram criadas por mim e pela Thais juntas e em poucos minutos.
Depois dessa meia década, eu já tinha condições de fazer com ela o que eu sempre imaginei e assim o fiz. Nem o vocal antigo eu usei, pois nunca tive acesso aos arquivos. Então a Thais veio aqui no estúdio e gravamos tudo de novo, com a coprodução de Elisa Audi. Eu amo essa track, mas na verdade eu amo todas as minhas criações, então minha relação com ela é como todas as outras, muito amor e orgulho.
WiR: Daí veio o Pedräda e deu sua própria visão em cima da faixa, dando a liga ao EP. Como se deu esse convite e parceria musical?
Foi em setembro de 2020, eu sempre imaginei a “Kicking” com uma versão mais progressiva e pensava no Pedräda há um tempo, pois acompanho o trabalho e acho que ele é um artista com uma sensibilidade linda, daí mandei mensagem fazendo o convite e, o mais legal é que foi justo no aniversário dele e eu nem sabia. Logo que ele me mandou o resultado, eu adorei. Achei que a leitura dele tem tudo a ver.
WiR: O que você espera da cena brasileira agora que estamos retomando os eventos? Acha que estamos em um novo período de união e hedonismo?
Tudo que eu esperava, já caiu por terra. Esperava, por exemplo, que a tal da “Block List” fosse real, mas os headliners da cena que tocaram nas clandestinas no auge da pandemia, continuam com seu posto de headliners nos principais eventos. Achava que teríamos menos gringos por causa da alta do dólar, mas logo nos primeiros grandes eventos eles foram anunciados. A galera continua pedindo VIP, reclamando do preço dos ingressos e a quantidade de mulheres nos line ups continua pífia. Ou seja, nada mudou e não, nem aprendemos alguma coisa e muito menos saímos melhores.
Acho sim que estamos vendo um novo período, com muita esperança e empolgação no ar e o hedonismo acho que sempre esteve na cena, talvez viveremos um exagero dele? Mas sei lá, minhas previsões estavam todas erradas, então só saberemos com o passar do tempo.
WiR: Por falar nisso, você já está bookada para uma gama de eventos de dar muito “FOMO” em nós, clubbers. Conta pra gente as novidades e onde te encontrar!
Primeiro… CALMA! To com a agenda cheia e em algum lugar vocês irão me ver! Vocês irão me encontrar no Caos dia 27/11, Casa da Luz 03/11 (SP), 04/12 Cave Club (Santos), 18/12 Festa 4 Estações (Santos), na virada do ano dias 31/12 e 03/01 no Festival Maomoon em Manaus e ainda tem a festa de aniversário de 10 e 11 anos da Carlos Capslock dia 15/01.
Mais novidades é que, além da “Kicking”, terei uma sequência de 3 lançamentos de remixes, em dezembro para o Levi Lenz, em janeiro para o duo Anarkhiart e em fevereiro… Não sei se posso contar. Hehe.
WiR: Conhecemos a sua persona artística como um símbolo de inovação no cenário nacional, seja nos looks bapho, nas produções ousadas, nos sets e performances destemidos, no uso da tecnologia em serviço da arte. O que podemos esperar do seu trabalho daqui em diante?
Muito mais disso. Quanto mais o tempo passa, menos medo eu tenho de me posicionar. Então tenho muitos planos, envolvendo até outras intervenções artísticas, para levantar os questionamentos que sempre levantei e enaltecer ainda mais o feminino. Bastante lançamentos também, encerrarei 2021 com um total de 6 lançamentos, marco único em minha história. A intenção é lançar um pouco mais que isso, veremos.
WiR: Imagino que alguns períodos da pandemia tenham liberado certo tempo para refrescar o repertório. Descobriu algo ou alguém que tenha chamado sua atenção e que queira compartilhar conosco?
Na verdade, a pandemia não mudou muita coisa em minha forma de pesquisar, pois é um trabalho constante e que eu tenho um imenso prazer em fazer. Uma das descobertas que eu mais me apaixonei foi a Melly. Ela é baiana e faz um R&B cremosíssimo!
Outra que descobri no começo deste ano é a Ursa Menor. Ela tem um som extremamente profundo e muito original!
E bem recentemente conheci a MK Jovem, ela se apresentou depois de mim em uma festa e o DJ dela, The Gust, é aluno meu.
Por último, tem o grupo FENDA, só mina de atitude, fazendo trap e mandando absurdamente nas rimas.
Acompanhem porque vale a pena! Obrigada pelo papo!